A Educação de Itaúna: um convite a educadores

A Educação de Itaúna: um convite a educadores


Entre aspectos econômicos e sociais, a história da Educação em Itaúna merece destaque adequado. É de longe o fator que melhor ilustra a benemerência, a criatividade, o espírito empreendedor e visionário dos filhos de nossas Barrancas. Hoje começo uma série de artigos sobre as raízes de nossa Cidade Educativa, seus primeiros colégios [Escola Normal e Colégio Sant’Ana], sua Universidade – mas, sobretudo, a semente criativa que lançou a visão educacional da história da cidade para muito além do molde de produzir catedráticos.

Educação não pode ser uma máquina de fabricar professores universitários – escrevi no artigo da semana passada, inspirado em estudo sério do pesquisador Sir Ken Robinson. A amplitude de habilidades de uma criança transcende a base do sistema educacional formal de hoje. Coloquei no título: este sistema está boicotando nossas crianças. Recebi uma mensagem extremamente elegante de uma “educadora” da cidade, que se esqueceu de atacar o conteúdo do artigo, mas não deixou mirar seus elogios no redator dele. Disse a minha nobre interlocutora, apontando para mim: “até quando quem não sabe nada da escola pública [de Itaúna], vai continuar falando merda, como se tivesse moral para falar”? Fiquei intrigado com este belo exemplar de frutos que o sistema educacional de nossa cidade está gerando, um bilhete de alto-nível, desinteressado no estofo das ideias, mas apegado à vaidade gerada por uma potencial plateia e redigido publicamente (acredite) por uma educadora. 

Decidi que a melhor resposta seria dar as mãos ao desalento e frustração desta conterrânea, e relembrar a ela e a outros que poderiam estar na mesma situação, sobre como a história da escola pública de Itaúna não merece estar numa mesma frase que possui os adjetivos que ela usou. Mas sim numa prateleira de orgulho para todos nós. Um lugar que traga mais alento e união entre os que se dispõe a debater o tema publicamente. Somos abençoados, aqui em Itaúna, com os mesmos parâmetros que Sir Ken Robinson disse faltar mundo afora: CRIATIVIDADE, PERSPECTIVA, PROMOÇÃO DA AMPLITUDE DE HABILIDADES. Decidi iniciar hoje, junto com você, querido leitor, um passeio pela memória de episódios, personalidades e aspectos socioeconômicos das Barrancas de São João Acima – nosso município.

Meu saudoso avô, o historiador e reitor fundador da Universidade de Itaúna, Dr. Guaracy de Castro Nogueira, contou em detalhes nas suas publicações historiográficas sobre o processo que levou nossa cidade de Itaúna a ganhar o título de primeira cidade educativa do mundo. Outorgado pela ONU, após um encontro em Paris, sede da Unesco, dos ministros de Educação de todos os países integrantes da Organização das Nações Unidas. Embora a história educacional de Itaúna, segundo nos ensina Dr. Osmário Soares Nogueira, nos remeta aos moldes econômico-sociais surgidos desde a migração dos egressos paulistas da Guerra dos Emboabas (por volta de 1710), vamos começar nossa jornada de lembranças nas publicações organizadas na década de 1970, por ocasião do título de Cidade Educativa. Elas nos brindarão com cérebros de alto estirpe – que registraram e analisaram tudo que gostaríamos de relembrar em homenagem à Educação itaunense.

Existe uma infinidade de beneméritos da Educação itaunense. Poderia começar citando Joãozinho Lima, Dr. Coutinho, Prefeito Vítor Penido, Manoel Gonçalves de Souza Moreira. Mas sabedor do potencial de cometer injustiças inevitáveis por obra tão ampla e bela, vou começar citando DONA YEDDA MACHADO BORGES (minha amada Tia Yedda), filha do Dr. Ovídio, meu bisavô. Na pessoa de Dona Yedda – cumprimento inicialmente a todos educadores que se sentirem parte da história da Educação itaunense. Entre os nomes que nos darão embasamento e moral para não cometermos equívocos, ao longo das próximas semanas, aponto a lista anotada em excerto da publicação historiográfica de nosso Dr. Guaracy: “para que cada cidade manifestasse direta e espontaneamente sua capacidade, demonstrando como a comunidade era capaz de agir produtivamente no sentido da prosperidade e bem-estar do seu povo, ativado a educação, a ciência e a tecnologia. Três artigos obrigatórios foram exigidos, falando sobre o passado, o presente e o futuro do município; outros, sobre educação, saúde, letras e artes, política, folclore e esporte, tudo impresso pelo velho sistema de composição de tipos. O saudoso tipógrafo Avelino Carvalho Neto, nas Oficinas Gráficas da Itaunense, deu um baile, fez uma obra de arte. Os artigos de fundo ficaram a cargo de Osmário Soares Nogueira (passado), José Waldemar Teixeira de Melo (presente) e Guaracy de Castro Nogueira (futuro). Outros colaboradores: Miguel Augusto Gonçalves de Sousa (Universidade), Yvette Gonçalves Nogueira (Obras Sociais), David de Carvalho (Folclore, Reinado e Teatro). Afonso Max de Oliveira (Educação e Comunidade), Nilo Caetano Pinto e Sargento Hermenegildo Thram (Esportes), Cosme Silva (Literatura), William Leão (Política) e Jésus Ferreira (Música). O prefeito Hidelbrando Canabrava Rodrigues deu todo apoio, patrocinou o jornal, sob direção de William Leão e Guaracy. Prefeitura, Universidade, Empresas, Folha do Oeste, Rádio Clube, Rotary, a comunidade como um todo enfrentou o desafio, principalmente nas etapas que se seguiram”.

Faço votos que nobre a educadora (que se indignou com o fato de termos levado a Educação para uma crítica e um debate público) continue assídua leitora desta coluna, pelas próximas semanas, e seja um exemplo de tantos profissionais da educação que fazem falta no ataque ao estofo de assuntos educacionais relevantes na atualidade, por perderem tempo atacando seus interlocutores e desafetos ideológicos.

Vamos celebrar a história educacional de Itaúna.