A “Indústria da Multa”

A “Indústria da Multa”




A “indústria da multa” em nível municipal vai receber nos próximos dias mais um reforço, desta vez o da PM, que volta a comandar a fiscalização do trânsito em toda a extensão do município. O assunto, além de complicado, é polêmico, mas é necessário e precisava ser mais discutido em todos os níveis de representatividade da comunidade, ou seja, entre o Executivo e o Legislativo e também pelas representatividades da sociedade civil organizada, pelos órgãos de representatividade dos comerciantes, industriais, dirigentes de classe e associações comunitárias, pois as ações de trânsito hoje envolvem toda a população, já que todos, de alguma forma, estão envolvidos com ele, seja como motoristas, passageiros, apenas como pedestres ou como financiadores, caso dos patrões que compram os vales-transportes para os funcionários. 

Mas as discussões e os debates em torno do assunto são poucos e nos poderes constituídos quase nenhum. Ao Poder Executivo não interessa a discussão, pois o trânsito é um gerador de renda, então quanto menos discussão, melhor. No Legislativo a discussão é tênue, pois os interesses individuais em se tratando de mandato vêm primeiro, pois até com o trânsito conseguem fazer política junto aos eleitores, e assim o povo, como sempre, acaba pagando o preço, isso literalmente, pois, além de ficar exposto a todo tipo de intempéries, como aos acidentes urbanos, tem que conviver com ônibus em estado precário no transporte coletivo, o que o coloca em risco constante, e tem que conviver com sinais de trânsito estragados e/ou sinalização inadequada, ou até mesmo sem ela, e tem que conviver também, se tem veículo, com a sanha dos nossos dirigentes em faturar com multas de trânsito. 

Então, pelos motivos citados e ainda por muitos outros, todos nós itaunenses que dirigimos veículos podemos estar preparados para, a partir da próxima semana, provavelmente, começarmos a prestar atenção ao utilizarmos as vias do município para não sermos multados pela PM, que vai prestar serviços de fiscalização do trânsito ao Município. E todos nós vamos ter dificuldades, pois estamos mal-acostumados, uma vez que, nos últimos meses, talvez no último ano, o trânsito em Itaúna virou uma verdadeira bagunça, sem nenhuma fiscalização, porque a administração municipal não conseguiu sequer fazer o edital para a realização de concurso público para a instituição da Guarda Municipal, que seria responsável pela fiscalização do trânsito local. 

Nos últimos meses, as únicas fiscalizações de trânsito existentes em Itaúna foram a de avanço de velocidade e avanço de sinal em pontos determinados, pois, fora isso, tudo estava sendo permitido, inclusive o estacionamento irregular nas áreas do Centro. A situação está tão bagunçada que, na Praça Dr. Augusto e ruas adjacentes, já não existe mais pontos de táxi, vagas de deficientes e idosos, pois qualquer um chega, estaciona e faz como quer. É uma verdadeira bagunça. As placas de estacionamento proibido em ruas como a Capitão Vicente, Gonçalves da Guia, Getúlio Vargas e no entorno do Colégio Santana, por exemplo, parece que não existem. Ninguém respeita nada. Na quinta-feira, 27, em frente ao Cartório de Notas, na esquina das ruas Dr. José Gonçalves com Melo Viana, por volta das 17h30, uma mulher em um Jeep Compass aguardava, provavelmente seu filho, dentro do carro, sem nenhum constrangimento, em fila dupla e praticamente no meio da rua, e com o veículo avançado na esquina. Um absurdo! 

Mas, enfim, isso vai acabar nas próximas semanas. E tem que acabar mesmo, pois numa cidade que tem cerca de 70 mil veículos, com uma área central de ruas estreitas e pouco estacionamento, o respeito ao trânsito tem que ser observado e, mais que isso, a fiscalização tem que existir e tem que ser mesmo punitiva. Porém essa fiscalização, antes de ser punitiva, precisa passar pela fase educativa, pois recursos para isso existe, e muito, com a arrecadação em multas com as câmeras e radares instalados nos sinais luminosos. É muito dinheiro, e deveria ter uma porcentagem destinada para as campanhas educativas em todas as mídias disponíveis no município. 

Não somos contra as câmeras, os radares e muito menos contra a fiscalização via Polícia Militar, mas somos favoráveis primeiro ao processo educativo. Apesar do brasileiro ser um rebelde por natureza, é preciso insistir na educação no trânsito. Mas o Município não fez isso até aqui, e parece que não vai fazer em nenhum momento. Então vamos aguardar os próximos capítulos da nova fase com a PM, que deve vir a todo vapor, pois também quer faturar para o Estado. E como o contrato/convênio reza 50% para um e 50% para outro, ou seja, para o Município e para o Estado, o que temos a esperar é que vão fazer de tudo para faturar, mas, antes de tudo, esperamos que prevaleça o papel dos dois federados, o de primeiramente educar, para depois punir. Mas, independente de qualquer postura e/ou ação, o que esperamos é que o povo seja respeitado, seja ele pedestre – pois este precisa de um trânsito funcional e com boa sinalização, para não ficar exposto a acidentes –, seja ele motoqueiro – pois este precisa do veículo de duas rodas também para trabalhar, apesar de ser o que mais desrespeita e abusa, mas precisa de um trânsito que flua sem complicações e que possibilite estacionamentos fáceis –, seja ele motorista de ônibus – pois este, além de ter que conviver com as dificuldades inerentes às irresponsabilidades das empresas concessionárias, ainda tem que conviver com quebra-molas em todo lugar, com buracos e pontos em ruas e avenidas sem a devida adequação –, ou seja ele um cidadão comum – que tem seu carro financiado ou que guardou dinheiro para comprá-lo e que quer um trânsito com fluidez, com sinalização e estacionamento seguro. 

Enfim, sem a fiscalização, está difícil devido à verdadeira bagunça que o próprio motorista provoca, então ela passa a ser essencial, e que ela seja feita então com bom senso pelos policiais/fiscais, com educação e, principalmente, com a faceta de instrutores, antes de repressores... E que, principalmente, não se coloque em primeiro lugar os cofres públicos, pois o cidadão comum já está sufocado por impostos de todas as espécies, e em todos os níveis de governo. Que assim seja!

Por: Renilton Pacheco