A nova Câmara e as poucas novidades nas eleições itaunenses...

A nova Câmara e as poucas novidades nas eleições itaunenses...




Para quem ainda tinha alguma dúvida, Gustavo Mitre se elegeu com a maior diferença em votos da história eleitoral itaunense. Foram 38.581 votos, contra 8.211 do segundo colocado e 1.603 do terceiro. Foram mais de 30 mil votos de frente, o que não deixa dúvidas do quanto o itaunense queria mudança. O segundo colocado, apesar de ter tentado se descolar do atual prefeito, era apoiado por ele e isso a cidade comentava. E com o desgaste do prefeito ainda no cargo, Itaúna em peso foi às urnas mostrar o quanto está “satisfeita” com a atual administração. E a derrota não foi só na escolha do prefeito. Na Câmara, vereadores que apoiavam o prefeito como o Silvano, Gleisinho e o Nesval, não se reelegeram e o ex-secretário de Administração, Dalton Leandro, considerado o “homem forte” do prefeito, não conseguiu a eleição. O terceiro colocado, Wandick, além da falta de estrutura e apoio à sua candidatura, deveria saber que os itaunenses ‘compraram a briga’ contra a esquerda, mesmo apesar de todos os benefícios recentes vindos do Governo Federal para o município, nos últimos 30, 40 anos, terem partido de uma gestão mais à esquerda ou, no máximo, de centro-esquerda. Foi assim com alguma coisa feita pelo ex-presidente FHC, que se definia de centro-esquerda, com o Lula e Dilma, de esquerda e novamente com o Lula. Não há registro de alguma obra, algum benefício, vindo do ex-presidente Temer e do Bolsonaro, ambos da direita e da extrema-direita, nem mesmo do Sarney, para lembrar um centro-direita mais antigo. Mas essa é história a ser falada em outra ocasião. O que interessa aqui é que o povo de Itaúna votou a favor de Mitre e contra o atual prefeito e deu quase nenhum voto ao candidato que seria o representante da esquerda.

Já, na Câmara, as novidades são poucas, quase nenhuma, em termos de ‘novo modelo de atuação’. Onze vereadores, de 17, foram reeleitos, apesar de algumas pessoas afirmarem que o Giordane não tinha sido eleito, que era suplente. Mas o fato é que o Fares, que seria o titular, abriu mão do mandato que o povo itaunense lhe conferiu e preferiu ficar lá, na Chefia de Gabinete, “fazendo o que sô rei mandar”, para ficar só na brincadeira dos tempos de criança. O mesmo seria se Nesval fosse reeleito, ele que assumiu o lugar do Lucinho, que também abriu mão do mandato para virar secretário. Falando nisso, é preciso procurar com lupa, ações de destaque dos secretários Fares e Lucinho, em quase quatro anos de secretariado. Voltando à Câmara, além dos 11 reeleitos, o Rosse Andrade já foi vereador e a sua eleição é uma quase-reeleição. Rosse, por sua vez, pode trazer novidades, pois ele é inquieto, atuante, não sabe fazer “o de sempre” e carrega uma esperança de melhora em relação ao atual quadro do legislativo local. Beto, do Bandinho, vai precisar mostrar que é diferente da sua irmã, que assumiu vários mandatos e atualmente chegou até a Câmara de Deputados. Se não mostrar que é diferente dela, vai ser também uma ‘continuidade’. Sobraram o Guilherme Rocha, o Wenderson da Usina, o Dalminho e o Israel. Portanto, quatro novidades reais. Destes, o Guilherme Rocha, pelo que vi nas suas postagens, foca o seu futuro mandato em “fiscalizar”. Lembrando que escrevi na edição de véspera do pleito, que são duas as principais funções dos vereadores: Legislar e Fiscalizar. No atual mandato, pelo menos, legislou-se muito pouco e fiscalizou-se menos ainda. O foco foi na “obtenção de verba” (que aliás não é função específica da edilidade), prestação de serviço social (mais conhecido como cata-votos, com as marcações de consultas, realização de exames e coisas do tipo) e pedidos de realização de serviços que já são obrigação do Executivo, como limpeza de ruas, trocas de lâmpadas, tapa-buracos etc. Dizem que, se fiscalizar esses serviços, não é preciso pedir pela realização deles. Então se ele realmente fiscalizar, estará ótimo. Wenderson, pelo que vi na campanha, também deve atuar nesta questão e ainda na busca de legislar em determinadas pautas, como na busca de solução para as enchentes e na melhoria do transporte público. Dalminho e Israel Lúcio, não vi as propostas. Conheço o Israel, até de ter trabalhado com ele em algumas situações, sei que é gente boa, mas isso só não basta. Boa gente, todo mundo tem que ser, e quem não é, está errado. Dalminho, pelo que me disseram, vai engrossar a “bancada religiosa”, junto com o Kaio, o Giordane, o Israel... E aí fica uma preocupação, porque o plenário da Câmara não pode ser confundido com púlpito de igreja. Aproveito para dizer aqui que as pautas religiosas não atendem à maioria, como devem ser as pautas dos legislativos Brasil afora. Decidir o que “é certo” e o que “é errado”, em termos de costumes, não deveria invadir o espaço parlamentar, como tem sido feito ultimamente. Até porque costume é uma coisa diferente. Quem vive na Índia, por exemplo, vê as vacas como sagradas. Por estes lados, tiramos o leite delas e comemos-lhe as carnes, para ficarmos somente em duas ações relativas ao animal. Já imaginaram se aprovam uma lei que torne “errado” tirar o leite da vaca, porque estaríamos agredindo um “animal sagrado”? pode parecer estranho, mas é uma exemplificação de que discutir costumes no espaço do parlamento, não é muito apropriado. Mas vamos lá. O tema aqui são as novidades quase inexistentes que teremos nos novos tempos que se avizinham com a posse dos eleitos. Esta é uma maneira educada de dizer que vai continuar a mesma coisa, podem dizer... mas preferimos acreditar que vai ter sim, mudança nas atitudes do nosso legislativo a partir de primeiro de janeiro. Tomara!

* Jornalista profissional, especialista em 

comunicação pública e membro da Academia 

Itaunense de Letras – AILE, titular da Cadeira 26.