As eleições e os riscos da radicalização

As eleições e os riscos  da radicalização
*Sérgio Cunha




Itaúna está em um processo de campanha eleitoral interessante, do ponto de vista da análise, porém, muito arriscado em se tratando da prática política objetiva. Explico a divagação: enquanto é instigante analisar um amontoado de candidaturas se colocando em um mesmo lado ideológico, deixando o outro em aberto, o que facilita para quem possa buscar este viés; vê-se que a radicalização neste ponto pode acabar por trazer prejuízos ao futuro dos itaunenses. Lembro de quando cheguei à cidade e acompanhava à distância os debates políticos locais. À época, prefeito de Itaúna, o professor Francisco Ramalho e governador do estado, o polêmico Newton Cardoso. Ramalho iniciava por aqui uma administração distante do que até então se via. Ele teria chegado com a virada emedebista, muito em moda na época – que meu amigo jornalista Zé Waldemar galhofava ter sido uma cambalhota – e imprimia ritmo ágil na administração. Com dinheiro em caixa, fazia muitas obras e, colocava nas placas: “Recurso, povo de Itaúna!” Disseram-me à época que ele até teria dito tête-à-tête ao governador que a cidade que ele administrava, não precisava de dinheiro do Governo de Minas, visto ser ele do lado oposto ao qual caminhava ‘Newtão’. Lembro que muito se falava à época, do estilo ‘trator’ do governador, que sobrevivia às muitas denúncias e acusações de corrupção. Newton Cardoso passou incólume às denúncias, não se sabe se por ineficiência do sistema jurídico, se por falta de provas, ou por se tratar de calúnias apenas de seus detratores. Certo é que não se viu condenado por nenhuma das acusações que contra ele eram feitas. E Itaúna? Ah, esta ficou sem dinheiro do governo e, quando o dinheiro municipal raleou, também ficou sem a ajuda do Estado, administrações à frente. Até mesmo quando o governador era Eduardo Azeredo, amigo particular do então prefeito, Osmando, pouco ou quase nada de dinheiro do Estado aportou por estas bandas. Diziam os governantes estaduais: “Itaúna não precisa de dinheiro do estado, pois quem disse isso foi o próprio prefeito daquela cidade”.

Agora vemos pelo menos os dois mais fortes possíveis candidatos a comandar Itaúna, além de a grande maioria dos candidatos à vereança, abraçar a cartilha da “direita”, como se só por ali a cidade possa prosperar, ou melhor, como se não existisse opção, porque a esquerda “é comunista (come criancinha)” e “corrupta”, como se a corrupção tivesse lado ideológico... É fácil ouvir afirmações de que “Lula é ladrão!” Se por um lado, vejo que esse negócio de “direita” é mais modismo, porque a maioria nem sabe o que significa ideologia política, quanto mais o que representam os rótulos de “esquerda”, ou “direita”; por outro, algumas declarações de bastidores me levam a pensar. Ouve-se de pré-candidatos (outra besteira que inventaram, para permitir que se faça campanha antes do prazo) a todos os cargos que “não fico do lado desse presidente, ele é corrupto”, levando assim, o futuro da cidade junto. Caso Lula, que ainda ficará pelo menos mais dois anos no poder, após a posse dos eleitos para o próximo mandato, tenha a mentalidade do Newtão, Itaúna pode ficar à míngua, sem recursos da União. Isto porque os políticos locais põem à frente as suas convicções (se é que as têm de fato), achando que é mais fácil definir posição ideológica para conquistar os votos, do que alinhavar uma proposta de governo factível (não se vê uma proposta sequer, que apresente um planejamento de como encarar o futuro mandato, que terá uma série infindável de problemas). E talvez seja isto mesmo: falta de proposta! É preciso lembrar que, corrupto ou não, os governos (populistas, talvez corruptos...) do petê é que trouxeram para a cidade obras como os recursos da ETE, o Samu, as casas do Santa Edwiges (as 440 e agora as anunciadas 108), a Farmácia Popular e uma série de outros benefícios, que não me cabe aqui relacionar. Lembrando ainda que nos seis anos recentes em que “a direita” esteve no poder, ficamos sem nada, apesar de a maioria dos nossos políticos municipais “rezarem pela mesma cartilha”. É preciso, senhores candidatos, a prefeito e a vereador, apresentar mais do que “lado político” e discurso ideológico. O cidadão-eleitor não precisa que o político defina o credo que ele deve ter. O cidadão-eleitor quer mesmo é que o político administre a cidade de maneira a que as condições de vida da população melhorem, que os vereadores sejam fiscais dos gastos públicos, primeiro e, depois, que elaborem leis que beneficiem a maioria e não apenas seu rebanho. É necessário ter posição, sim, mas a favor de Itaúna e não, só contra quem quer que seja. Está em jogo é o futuro do município e não suas relações pessoais.

* Jornalista profissional, especialista em 

comunicação pública e membro da Academia 

Itaunense de Letras – AILE, sendo titular da cadeira 26.