Constante falta de água não é por causa da seca

É falta de planejamento e capacidade de gestão no SAAE, apontam críticos

Constante falta de água não é por causa da seca
Foto: Reprodução/Redes Sociais


Mais uma vez, a questão da falta de água em Itaúna ocupa espaço no debate público, já que tem sido constante o problema, especialmente em bairros da região do Morada Nova e Cidade Nova. O SAAE tem postado avisos, assim como a Prefeitura, em suas redes sociais, com afirmações de que a seca existente no país e uma recente “pane elétrica” no sistema de bombeamento ocasionaram a falta de abastecimento. Na Câmara, o vereador Gustavo Dornas ocupou a tribuna para abordar o assunto e falou em convocar a diretora do SAAE, mais uma vez, à Câmara, para dar explicações. Na plateia, pessoas riram da fala e da proposta, visto que as alegações têm sido as mesmas e que o problema não é abordado como deveria. “Ouvir a diretora da autarquia e as perguntas de vereadores que não se preparam para debater o tema, ou não sabem expor suas ideias, não vai resolver nada”, disse um cidadão que assistia à reunião. E completou: “Vão demorar dez dias para receber a visita, ela vai falar um monte de bobagens, como sempre, os vereadores vão elogiar a fala dela, uns vão tentar fazer perguntas, mas não vão saber fazê-las, porque não se preparam para isso e fica tudo na mesma: faltando água!”.

Para buscar informações sobre o que ocorre, na realidade, a reportagem da FOLHA saiu a campo e encontrou as seguintes informações: primeiro, que a seca não interfere, ou interfere muito pouco na situação do desabastecimento, senão vejamos. As duas adutoras do SAAE captam nada menos do que 407 litros por segundo na barragem. A ETA – Estação de Tratamento de Água tem capacidade máxima de tratar 316 litros por segundo. Assim, “sobram” e precisam ser descartados nada menos do que 91 litros por segundo de água bruta captada na barragem. Assim, o problema não está no nível de água da barragem, mas na capacidade de tratamento de água na ETA. Essa capacidade não foi aumentada em um litro sequer nos últimos oito anos, conforme informações obtidas extraoficialmente no SAAE. Lembrando que a população itaunense ao final de 2016 era estimada em 92 mil habitantes e hoje a estimativa é de 102.500 habitantes, com aumento populacional de mais de 10% no período. 

Com essas informações, pode ser notado que faltou planejamento da atual administração, apontam críticos, pois não existiu trabalho para aumentar a capacidade de tratamento de água na ETA, mesmo sabendo-se que, com o aumento da população, haveria aumento no consumo. Porém, ainda segundo levantamentos, as informações são de que o investimento na construção de um reservatório, aquele instalado no Monte Moriá, não teve o cuidado necessário e praticamente não funciona, devido aos entraves ocorridos e já denunciados em outras oportunidades.  

R$ 10 milhões de custo e obra incompleta

No dia 17 de dezembro de 2022, o prefeito convidou a população a comparecer à inauguração de um novo reservatório de água tratada, que, segundo a divulgação oficial, traria solução para o problema de abastecimento de uma região com mais de 45 mil pessoas. Tratava-se do reservatório construído no local denominado Monte Moriá, ao custo de mais de R$ 10 milhões. Porém, conforme a FOLHA informou na ocasião, estava sendo inaugurada uma “gambiarra”. O motivo? Para levar água ao reservatório, deveria ser construída uma “casa de bombas”, que não foi concluída à época, portanto não tinha como mandar água para o local. O citado reservatório tem capacidade de armazenamento de 2,5 milhões de litros de água. Para enchê-lo, conforme apurado à época, estava sendo enviada água de um reservatório construído para abastecer o Boulevard Lago Sul.

Nesta semana, um candidato a vereador de nome Santiago, que é funcionário do SAAE, gravou vídeo apontando o seguinte problema em relação àquele reservatório: “Lá demora três dias para encher, e com capacidade de 2,5 milhões de litros, manda a água para o R7, no Novo Horizonte, que tem capacidade de 3,2 milhões de litros. É um ‘piniquinho’ para encher um pinicão”, criticou ele. Conforme a sua fala, esse sistema não funciona como deveria, pois, se demora três dias para encher aquele reservatório, e de lá ele manda a água para o Novo Horizonte, não tem chegado água suficiente para abastecer a região, de mais de 50 mil habitantes, conforme a estimativa. E o candidato ainda faz mais uma revelação. O novo reservatório poderia abastecer as caixas que ficam no Cidade Nova, para atender àquela região, pois “tem a rede que vai até a Praça Janou (Saldanha), aquela rotatória na entrada do bairro”. Portanto, conforme estas informações, a situação do Cidade Nova, Peixotas, Murilo Gonçalves e imediações poderia ser solucionada com a interligação desta rede até a caixa d’água do bairro, a cerca de 500 metros de distância desse ponto.

“Pane elétrica” seria resultado de “desleixo administrativo”

Outra informação obtida pela reportagem é de que a citada “pane elétrica”, usada como argumento para a falta de água pelo SAAE, se trata de questões administrativas. A bomba principal que manda água para o reservatório R7, do Novo Horizonte, queimou. Porém o SAAE não tinha uma reserva e isso demorou cerca de uma semana para ser solucionado. A substituição só foi feita na quarta-feira desta semana, depois de sete dias da ocorrência. É inadmissível que não se tenha um equipamento de reserva para esse tipo de ocorrência. “É o mesmo que deixar o carro parado porque o pneu furou e não tinha estepe”, ironizou um cidadão, criticando a direção da autarquia.

In-com-pe-tên-ci-a!!!

Lembrando as falas do prefeito Neider, quando candidato em 2016, apontando problemas na Prefeitura e afirmando, com entonação grave, que era necessário administrar Itaúna com “com-pe-tên-ci-a”, assim mesmo, dizendo cada sílaba em separado, ironizou: “Ele falava do que não conhecia, nem de administração pública, nem de competência. Aí deu no que deu: falta água, esgoto voltou a cair no rio, passagem de ônibus mais cara de Minas Gerais, cidade suja, saúde com falta de médicos nos PSFs, Plantão 24H sem médico e, por outro lado, aumento na conta de água e na taxa de lixo. Haja in-com-pe-tên-ci-a!!!”