Desconstrução com enganos...
Tive acesso dia desses a uma pesquisa que aponta o nível de confiança dos brasileiros, em instituições públicas, mídia, ONGs e nas empresas. Como era de se esperar, até pela desconstrução que vem sendo feita, especialmente da parte da grande mídia, quase que em uma ação de suicídio, mesmo, a mídia tem perdido muito de sua credibilidade. Da mesma forma, as instituições públicas. Os empresários (categorizados como empresas) tem se mantido acima da média e as ONGs conseguem melhorar na avaliação das pessoas. No caso desta última, parece estar ligada à questão do crescimento das religiões, que por sua vez, mantém organizações não governamentais como órgãos de execução de seus projetos sociais.
E se a própria imprensa atua na desconstrução de sua força, apontando ações de ‘influencers’, de ‘emicis’ e outras denominações da moda para quem posta comentários nas redes sociais, como se imprensa fosse, também é a mídia em grande parte a culpada pela destruição do respeito às instituições. Profissionais sem preparo se arvoram comunicadores e denominam a ação de um prefeito corrupto, por exemplo, como se fosse ato da Prefeitura. De um deputado, como se fosse ação do Congresso. Generaliza a “paternidade” da ação como se a instituição fosse a responsável pela ação de um de seus membros, mesmo que sejam membros temporários...
No caso da empresa (ou resumindo, do empresário), a postura é um pouco diferenciada, já que ao divulgar, por exemplo, que um ônibus perdeu os freios e bateu em um muro, ficando dependurado com dezena de pessoas feridas e cerca de metade delas em estado mais grave, não se aponta a empresa que vendeu um veículo com problemas em seu sistema de freios... Esse caso aconteceu nesta semana na capital, e um ônibus que segundo as informações, era novo, teve problemas mecânicos e acabou por provocar o acidente. Mas o problema não é á na ponta, com o profissional que dá a notícia. Mas na estrutura de como se constrói a notícia, hoje em dia. A corrida para “informar primeiro”, “informar mais rápido”, “chegar na frente”, transforma o que deveria ser uma notícia em simples informação parcial do que aconteceu. Em um acidente como este, a notícia deveria ir além do acontecido, do fato, mas buscar informações do porquê aconteceu, como poderia ter sido evitado etc. Onde, realmente, começou o problema.
E, aí, voltando lá no início destas linhas, o leitor deve estar a perguntar o que tem a ver o caso do acidente com o resultado da pesquisa abordada. É que aqui estamos tentando, em poucas linhas, mostrar que o resultado da pesquisa não retrata o que realmente ocorre no nosso dia a dia. Até porque, nós da imprensa gostaríamos de poder editar matérias em que pudéssemos mostrar um outro lado das instituições. Um exemplo seria, por exemplo, fazer uma reportagem com aquelas senhoras, quase todas mães, donas de casa, ‘chefes de família’, que varrem as nossas ruas. Elas são a outra ponta da instituição pública. Aquela que não é mostrada, aquela que as pessoas não notam... E, por conseguinte, não refletem nas pesquisas.
E se a situação não é boa, hoje, a tendência é piorar. Hoje a informação que substitui a notícia, é dada em grupos de WhatsApp, em ‘sites de notícia’, que mais se preocupam em repassar a informação apenas, até porque poucos deles sabem redigir uma notícia. E enquanto a notícia perde espaço para a informação que muitas vezes é falsa (fake, como gostam de dizer), as instituições, a mídia, os organismos vão perdendo em credibilidade, para aqueles que, muitas vezes, passam incólumes da responsabilidade real dos problemas.
É preciso que as pessoas que atuam na mídia, na função de jornalistas noticiaristas, encontrem uma maneira de produzir a notícia a partir de um fato e não apenas informar um ocorrido. É preciso começar, por exemplo, a noticiar que o carro que capotou na rodovia, o fez ao passar por uma poça d’água, ocasionando a aquaplanagem, e explicar o que é esse problema, para que outros motoristas que leem a notícia, possam evitar uma futura situação idêntica. Isso faz parte da notícia, até porque, informar que o carro rodou e capotou, qualquer um é capaz de fazer...