Desejo de emancipação

Desejo de emancipação


O desejo de emancipação do arraial de Sant’Ana do Rio São João Acima, hoje, município de Itaúna, Minas Gerais, percorreu um longo e árduo caminho, marcado por diversas tentativas ao longo dos anos, que culminaram em seu sucesso no início do século XX. A trajetória rumo à emancipação municipal pode ser dividida em diversos marcos significativos ao longo das décadas, com destaque para os anos de 1856, 1874, 1877, 1879, 1890, 1901 e 1902.

1856 — Primeiras Sementes do Desejo de Emancipação: Neste ano surgiram as primeiras discussões sobre a necessidade de emancipação do distrito de Sant’Ana do São João Acima, que então pertencia ao município de Pará de Minas. Esse período foi caracterizado pelo início das articulações políticas locais, onde lideranças começaram a reconhecer a importância de se ter uma administração própria para atender às demandas crescentes da região. Contudo, a falta de estrutura política e a pouca influência dos líderes locais na política provincial impediram que os esforços resultassem em sucesso imediato.

1874 — Reforço no Movimento Emancipacionista: Neste período, novas movimentações foram feitas para impulsionar a emancipação. O crescimento econômico da região, com a agricultura e a pecuária se expandindo, criou um cenário propício para a renovação das tentativas de separação. Porém, mais uma vez, as barreiras políticas e a resistência de figuras influentes no município de Pará de Minas frustraram os esforços dos emancipacionistas.

1877 — Persistência nas tentativas:  A perseverança das lideranças locais foi novamente testada em 1877, quando se intensificaram os movimentos políticos em prol da emancipação. Nessa época, figuras influentes do arraial de Santana começaram a se destacar na luta, promovendo reuniões e debates entre os habitantes locais. Apesar das dificuldades, a mobilização popular cresceu, plantando as bases para as futuras tentativas.

1879 — Avanços Políticos: Dois anos depois, as discussões sobre a emancipação ganharam mais força. As dificuldades vividas pela população local, que enfrentava longas distâncias para resolver questões administrativas em Pará de Minas, tornaram a emancipação um clamor popular. A pressão exercida pelos moradores e líderes locais, intensificou-se, ainda que os resultados práticos só fossem aparecer anos depois.

1890 — Ventos Republicanos:  Ainda em 1890, aproveitando os “ventos republicanos”, os líderes de Sant’Ana do Rio São João Acima intensificaram seus esforços pela emancipação do município. Antes mesmo da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o arraial de Sant’Ana já demonstrava um forte alinhamento com os ideais republicanos. Um marco desse pioneirismo foi a fundação do Clube Republicano 21 de Abril, em 1889, sendo um dos primeiros movimentos republicanos em Minas Gerais. Liderado por figuras proeminentes da região, o clube foi fundamental para mobilizar a população em torno das ideias republicanas. No entanto, a instabilidade política do novo regime dificultou a aprovação das demandas locais, tornando o processo mais desafiador do que o esperado.

1901 — Progresso e Conquista da Emancipação Política: Após décadas de tentativas frustradas, a tão esperada emancipação de Itaúna finalmente se concretizou em 16 de setembro de 1901. Nesse contexto, lideranças locais de destaque, como Josias Nogueira Machado, Major Senócrit Nogueira, Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira e Padre Antônio Maximiano de Campos, intensificaram seus esforços, conseguindo com sucesso a autonomia política da região.

1902 — Consolidação da Emancipação: Em 2 de janeiro de 1902, a emancipação de Itaúna foi consolidada com a instalação da Câmara Municipal. A nomeação do Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira como o primeiro prefeito marcou o início da administração municipal própria, estabelecendo as bases políticas e administrativas do novo município. Seu papel foi fundamental não apenas na gestão inicial, mas também no fortalecimento das bases, contribuindo significativamente para o desenvolvimento do município.

Longa Jornada: A história da emancipação de Itaúna é marcada por uma longa jornada de pertencimento a diferentes municípios, refletindo as transformações políticas e administrativas que moldaram a região ao longo de décadas. Antes de alcançar sua autonomia, a área que hoje compreende o município de Itaúna passou por várias mudanças de jurisdição, pertencendo a diferentes municípios em momentos distintos: Sabará: 1711, Pitangui: 1715, Pará de Minas: 1848, Pitangui: 1850, Pará de Minas: 1858, Pitangui: 1872, Pará de Minas: 1874 e finalmente, em 1901, Itaúna se tornou um município autônomo.

Inicialmente, em 1711, a área fazia parte do município de Sabará, um dos primeiros centros administrativos da Capitania de Minas Gerais. Poucos anos depois, em 1715, Itaúna foi incorporada ao vasto território de Pitangui, que na época era um dos principais núcleos urbanos da região. Pitangui manteve sua influência sobre a área até a metade do século XIX. 

Em 3 de abril de 1847, por meio da Lei nº 334, a Paróquia de Santana de São João Acima foi incorporada ao Município de Bonfim. 

Com o passar do tempo e o desenvolvimento econômico da região, a necessidade de uma administração mais próxima se fez sentir, e em 1848, Itaúna foi desmembrada de Pitangui e passou a pertencer a Pará de Minas. Este vínculo durou por alguns anos, mas em 1850, o território de Itaúna voltou a ser parte de Pitangui, refletindo as mudanças nas delimitações municipais que ocorriam na época.

Novamente, em 1858, Itaúna foi incorporada ao município de Pará de Minas, onde permaneceu até 1872, quando mais uma vez voltou a integrar Pitangui. Essas constantes mudanças de jurisdição foram um reflexo das complexas dinâmicas políticas e econômicas que caracterizavam a região naquele período. Finalmente, em 1874, Itaúna foi novamente colocada sob a administração de Pará de Minas.

Já em 1901, após sua emancipação, a vila de Itaúna começou a se consolidar como um importante centro regional. O progresso da vila foi reconhecido pelo governo do Estado de Minas Gerais, e esse reconhecimento foi oficializado pela Lei nº 663, de 18 de setembro de 1915, que alterou a divisão judiciária do estado e conferiu à vila de Itaúna o status de cidade. Em 24 de janeiro de 1925, pela Lei nº 879, Itaúna foi elevada à categoria de Comarca.

Esse processo de evolução administrativa reflete o crescimento e a importância que o município adquiriu ao longo do tempo, impulsionado pelo desejo de suas lideranças e pela perseverança de seu povo em alcançar autonomia e desenvolvimento. A elevação do antigo arraial de Sant’Ana do Rio São João Acima, hoje Itaúna, à condição de cidade e comarca marcou o início de uma nova era, consolidando o município como um polo regional de progresso e prosperidade.