Estatística e nichos eleitorais: a eleição 2024 para vereador de Itaúna

Estatística e nichos eleitorais:  a eleição 2024 para vereador de Itaúna




A eleição para vereador ocorrida em Itaúna na última semana foi uma celebração estatística de nosso querido povo itaunense. Claro; uma festa democrática. Mas um interessantíssimo retrato da progressão eleitoral da cidade. E isso não tem nada que ver com o fato de nossa previsão da semana passada ter acertado 11 dos 17 candidatos. 

O que nos chamou a atenção foi o acerto de números. Por exemplo; anotamos que na rodada de distribuição por média (não confundir com a primeira rodada de Q.E), o PL teria 2.190 votos. Rosse Andrade ocupou esta cadeira com 2.196 votos da sigla. Já o PSD recebeu nossa previsão de 2.150 votos na rodada da média, obteve 2.172. A análise apontou que o União teria 2.398 nesta mesma rodada da média. Ele conseguiu 2.546 votos e garantiu a vaga de Israel Lúcio. O curioso é que o mérito dos acertos não está em prevermos o número exato de votos que cada candidato, numa análise micro, ou no número de votos válidos totais – que também erramos junto com o número de cadeiras de alguns partidos. Os acertos intrigantes dessas médias estão amparados, entre outras coisas, na observação da distribuição do percentual de votos válidos que cada sigla teria. 

Pontos que nos chamaram a atenção, quando comparamos a previsão com o resultado real. Os nossos cálculos indicaram que o PSDB teria 3.857 votos, ele fez 3.601. Também apontaram que o PRD teria 3.637, ele teve 3.717. O estudo apontou que o PRTB teria 2.696, ele teve 2.871. O PP teria 2.951, obteve 2.649. O MDB teria 3.855 votos, e fez 3.345 – além de colocar o candidato Alexandre Campos na nona cadeira, apenas uma depois da previsão, que o posicionava na oitava. 

O esforço para entender e prever nossa eleição não é infundado. Um bom exemplo disso é o trabalho de Christopher Achen e Larry Bartels. Conhecidos por sua obra em ciência política, especialmente em relação à análise do comportamento eleitoral e à influência de fatores sociais e econômicos nas decisões dos eleitores. Grande contribuição deles é a abordagem de Evidência Empírica e Análise de Dados. Achen e Bartels utilizam dados empíricos para explorar padrões de comportamento eleitoral. Eles analisam fatores como classe social, raça, educação e economia influenciam as escolhas dos eleitores. Essa análise é frequentemente feita através de métodos estatísticos que buscam identificar correlações e causalidades. No livro “Democracy for Realists: Why Elections Do Not Produce Responsive Government” (“Democracia para Realistas: Por que Eleições não Produzem um Governo Responsivo”), Achen e Bartels argumentam que a teoria tradicional do comportamento eleitoral, que assume que os eleitores fazem escolhas racionais baseadas em informações e preferências políticas, não se aplica de maneira precisa na prática. Em vez disso, eles defendem que o comportamento dos eleitores é frequentemente guiado por fatores como identidade social, lealdades partidárias e contextos históricos, o que pode levar a padrões de voto que não necessariamente refletem as preferências ou políticas dos candidatos. Os dois pensadores também exploram como a identidade social e as conexões grupais afetam o comportamento eleitoral. Por exemplo, o modo como os eleitores se identificam com grupos raciais, étnicos ou econômicos pode influenciar sua escolha de candidatos, independentemente das políticas propostas. Isso indica que os candidatos que conseguem se alinhar com essas identidades têm uma vantagem. Na análise específica das eleições de Itaúna, há um ponto especial de que nos equipamos dentro do pensamento de Achen e Bartels. Eles discutem o conceito de voto retrospectivo, onde os eleitores avaliam o desempenho passado de um governo ou partido ao invés de focar apenas nas propostas futuras. Eles argumentam que essa tendência pode ser mais forte do que a lógica de voto prospectivo, e que os candidatos que projetam uma imagem de continuidade ou que são associados a resultados positivos anteriores podem se beneficiar. 

Contudo, É A NA METODOLOGIA DE ACHEN E BARTELS QUE ENCONTRAMOS A CEREJA DO BOLO PARA NOSSO TRABALHO NESSAS ELEIÇÕES. Eles aplicam técnicas estatísticas avançadas para analisar dados de pesquisas eleitorais e resultados de eleições. Isso inclui análise de regressão e modelagem de dados longitudinais para identificar padrões de comportamento ao longo do tempo.  Não se desprezam os estudos de caso para ilustrar como os fatores que identificam o comportamento eleitoral podem variar em diferentes contextos políticos e sociais. 

As eleições de 2024 em Itaúna foram um interessantíssimo gatilho de aprofundamento na análise de como a sistematização dos perfis de eleitores da cidade combinados com a evolução estatística e sociocultural do eleitorado pode nos entregar um horizonte belíssimo de previsão para as próximas eleições. Acredito firmemente que possível desenvolver uma teoria de nichos eleitorais nas Barrancas de nosso São João.