FOLHA Entrevista - Wandick Pincer, candidato a prefeito

A FOLHA conversou com Wandick Robson Pincer, que é candidato a prefeito de Itaúna. Wandick, 63 anos, é casado, pai de duas filhas, formado em Letras pela Universidade Estadual de Minas Gerais. É servidor público há 34 anos, 25 deles como concursado no SAAE. Ele possui experiência na Prefeitura e Câmara Municipal como secretário legislativo e atuou na gestão do IMP e, atualmente, no SAAE. É candidato pelo Partido Verde (PV).

FOLHA Entrevista - Wandick Pincer,  candidato a prefeito




FOLHA - Você é servidor municipal e sabe que máquina pública está inchada e com vários problemas em se tratando de soluções para o cidadão. Como resolver a questão? 

WANDICK PINCER - É inaceitável um prefeito ter quase 300 cargos de confiança, em uma cidade do porte de Itaúna, em detrimento da valorização dos servidores concursados, que são do quadro permanente e já conhecem a administração pública, porém fica sem valorização. Isso é um desperdício de dinheiro público e nós pretendemos tomar medidas extremas! Há cargos de confiança só pra ficar levando fofoca ao gabinete! Não quero esse tipo de relação. Quero gente trabalhando e produzindo pra nossa cidade. Há muitas questões pra resolver e, como eu não tenho rabo preso com ninguém e nem compromisso de campanha com cabos eleitorais, irei extinguir de 80 a 100 cargos de confiança do prefeito que são desnecessários, para evitar que o dinheiro público vá para o ralo. Nós servidores públicos temos uma missão muito importante, que é atender da melhor forma e dar a melhor solução aos problemas da coletividade. Vou nomear secretários e gerentes técnicos que sejam servidores de carreira, para qualificar as ações em favor dos cidadãos, visando estabelecer uma administração pautada pelo conhecimento e pela formação, independentemente de ter votado no candidato A ou B. Onde houver necessidade vamos fazer concurso público para obter um quadro permanente e que restabeleça a memória técnica das secretarias e dos setores estratégicos; vamos também estabelecer um quadro de lotação adequado, com critérios bem definidos e que definam a quantidade de servidores em cada área, para evitar o excesso de pessoal na estrutura do Executivo. 

FOLHA - O senhor tem como principal bandeira de sua possível administração a implantação do programa Tarifa Zero. Sendo eleito, como será feita a implantação desse benefício, com que recursos o senhor vai bancar esse programa? E o que poderá ser oferecido para quem não usa o transporte público, até pela incompatibilidade que às vezes ocorre, mas que tem o custo do transporte que é feito por outros modais?

WANDICK - O programa Tarifa Zero é uma política que o prefeito deve executar a favor da população, pois o usuário de ônibus merece nosso respeito e depende de vontade política. Nós temos essa vontade política e vamos implantá-lo! Fato é que conseguimos, através de audiências públicas, aprovar no orçamento público para 2025 um valor inicial para praticar esse programa de transporte de graça. Os recursos necessários para cobrir o custo mensal do transporte pago, que gira em torno de 2 milhões e 100 mil reais por mês, virá das multas de trânsito, do estacionamento rotativo, das propagandas nos ônibus, das emendas parlamentares de vereadores, deputados estaduais e federais, da própria prefeitura (que gasta R$ 5 milhões por ano comprando vale-transporte da ViaSul) e da ajuda financeira dos empresários, que compram vale-transporte para seus empregados, os quais irão colaborar com pelo menos a metade do que gastariam mensalmente, já que também são obrigados por lei a cobrir a diferença da passagem para todo funcionário. Todo mundo ganhará: o empregado, que não terá mais o desconto de 6% no contracheque; o empresário, que gastará só 50% para comprar vale-transporte pros seus empregados; os estudantes, que terão 100% de gratuidade pra irem à escola ou faculdades; a dona de casa, por suas necessidades diárias; a mãe, que precisaria se deslocar pra levar o filho ao médico; o desempregado, que teria que ter apoio da família pra procurar nova vaga de emprego; os comerciantes, que verão todo esse dinheiro economizado circular nos seus negócios; os mais vulneráveis, como os que recebem bolsa família e BPC, que terão sua renda mantida em sua totalidade pelo CadÚnico; as pessoas que forem visitar parentes e os que desejam uma forma de lazer, por se deslocarem sem custo algum; e, por fim, o Município, que verá a economia local mais revitalizada, haja vista que todo o dinheiro que antes ia só pra concessionária de transporte coletivo, agora, será distribuído em todo o comércio. Com o Tarifa Zero haverá uma redução de veículos no trânsito, melhorando a mobilidade urbana de forma sistemática, haja vista que as pessoas usarão o transporte gratuito de forma permanente, economizando em sua renda por não usar seus veículos próprios, e por oferecermos ônibus novos e profissionais qualificados, os quais não precisarão fazer duas funções (motorista e trocador). Nosso maior propósito com o Tarifa Zero é que ele atenda a população que não suporta mais pagar por uma passagem a R$6,50, e que é cara quando comparada à renda mensal do trabalhador brasileiro. Iniciaremos um estudo contratando um profissional de planejamento urbano e com conhecimento de engenharia de tráfego para que avalie nossa cidade por uma perspectiva promissora, ajudando a resolver os gargalos do trânsito central, principalmente, mas que nos mostre a melhor forma de financiamento do programa. Quanto ao outros modais de transporte, como os de aplicativo e de taxi, não vemos restrição alguma na implantação do Tarifa Zero, porque não terão prejuízo da oferta de sua atividade, o que entendemos, até poderá aumentar, porque as pessoas continuarão necessitando de deslocamentos mais rápidos para suas emergências. 

FOLHA - Implantar uma UPA em Itaúna ocupou o debate nos últimos dias, inclusive o senhor já apontou terrenos que, se eleito, vai oferecer para a implantação desse serviço. Porém a UPA pode também ficar sobrecarregada, como é hoje o Plantão 24 Horas, buscado pela população para todo tipo de atendimento médico, seja ele de urgência e emergência ou não. Para que esse problema não ocorra, qual é a sua proposta para a gestão da saúde em Itaúna? 

WANDICK - Há uns 10 anos, foi habilitada uma UPA para Itaúna e, pelo que sei, o recurso foi devolvido ao Ministério da Saúde, próximos de 2 milhões de reais, ou seja, os dois mandatários não se interessaram por uma UPA e nem se desdobraram por resolver questões técnicas de sua implantação. Talvez a maioria da população não saiba disso, mas é a verdade. Perdemos uma UPA por acomodação política. Nós, no interesse da população, registramos em nosso programa de governo uma nova habilitação, porque temos canal direto com o presidente Lula, já que todo o encaminhamento ocorre na esfera federal. Logo nos primeiros dias de nosso governo, daremos a entrada no Ministério da Saúde, em Brasília, com o pedido de habilitação, para atendermos os requisitos necessários e ter a aprovação definitiva de sua construção. Não será da noite pro dia, mas nos dedicaremos ao máximo para obter essa importante política pública de saúde. Enquanto isso, daremos total prioridade para recompor o Plantão 24 Horas de médicos (clínico geral e pediatra), a fim de resguardar o direito da população e evitar que as pessoas voltem pra casa sem atendimento. Outra medida conjunta que tomaremos também será o estudo para ampliação do atendimento dos profissionais de saúde nas unidades de saúde e nos PSFs, até às 19h, a fim de desafogar o hospital e o Plantão 24H. Resolvemos indicar dois terrenos (o do Parque SINDIMEI e o do Campo Vermelho da Universidade de Itaúna) por serem os mais estratégicos. Caso sejamos eleitos, buscaremos o diálogo e a aproximação com os seus responsáveis diretos, visando uma cessão, se possível. Por tudo, não haverá sobrecarga da UPA, em razão das ações que pretendemos tomar, visando equilibrar os atendimentos de atenção primária, já que a UPA é de atenção secundária. Por fim, buscaremos fortalecer parcerias com o hospital, principalmente quanto à aquisição de equipamentos e de aumento de leitos. É o único de nossa cidade, e temos todos que ajudar a mantê-lo. Vou convidar a população a ajudar com doações em favor do hospital, porque os valores arrecadados em convênio com o SAAE, através da conta de água, talvez não cheguem a um salário mínimo. O hospital é de todos nós, um valioso patrimônio doado por seu grande benfeitor, coronel Manoel Gonçalves de Souza Moreira.  

FOLHA - O senhor tem falado em sua campanha que, ao diminuir os cargos comissionados em 80, 90 cargos, vai conseguir recursos para aplicar em áreas como saúde, educação, transporte. O senhor tem um estudo que possa quantificar quanto, realmente, será economizado com a redução desses cargos e quais os problemas efetivos o senhor pretende resolver com esta possível economia? 

WANDICK - Há cargos comissionados de 5, 6, 7 e 8 mil reais de salário por mês, que, não sendo ocupados por servidores de carreira, geram uma folha bem pesada quanto ao gasto com pessoal. Segundo levantamentos que fizemos, nossa economia anual pode chegar entre 8 e 10 milhões de reais. Esse dinheiro deve ser aplicado em políticas públicas que atendam às necessidades da população, principalmente na saúde, na vaga de creches, na ampliação de salas de aula e até mesmo na questão do transporte público. Na educação há uma demanda quanto ao piso nacional do magistério, que não sabemos se os recursos vinculados estão guardados no caixa da prefeitura, em conta específica, já que pretendemos corrigir essa injustiça com nossos profissionais do magistério. Por isso, sendo o único candidato a prefeito disposto a diminuir cargo de confiança, mostramos respeito ao dinheiro suado do cidadão para pagar impostos e queremos dar a esse recurso a melhor aplicação possível. A população precisa nos acompanhar quanto a essas decisões, para que nos ajude a fazer os melhores investimentos em favor dela mesma, principalmente para que o dinheiro público chegue na ponta, ou seja, aos que mais necessitam. Foi com esse total respeito ao dinheiro público que, quando estivemos na direção geral do SAAE, conseguimos guardar dinheiro para começar a Estação de Tratamento de Esgoto – ETE, projeto que estava na gaveta há mais de 10 anos. Recebemos, ao longo de quase 35 anos de serviço público, investimentos de vários cursos sobre Lei de Responsabilidade Fiscal, Orçamento Público e Finanças Públicas, e os aplicamos quando fomos os dirigentes do SAAE e IMP, garantindo transparência, ética e responsabilidade à nossa missão. Nosso município está com um endividamento preocupante e está pendente em vários itens com a Secretaria do Tesouro Nacional diante de vários requisitos para futuros financiamentos. Então a redução de cargos comissionados é uma decisão para equilibrar o caixa do Município, porque o povo espera de nós é responsabilidade e trabalho. 

FOLHA - O senhor diz em campanha que tem conhecimento de gestão pública e que “sabe onde está o dinheiro” e como obtê-lo. Poderia ser mais claro e apontar, em quantidade, quanto de recurso o senhor poderia obter para solucionar problemas de Itaúna e quais problemas seriam solucionados com esses recursos? 

WANDICK - Itaúna tem um PIB invejável, nosso povo é trabalhador e produz uma riqueza que gera muitos impostos aos governos federal e estadual. Em Brasília há muitos recursos que poderão ser obtidos a fundo perdido, como ocorreu com os 14,5 milhões da Estação de Tratamento de Esgoto, que o ex-prefeito Eugênio Pinto formalizou no Ministério das Cidades, em 2012, e o ex-prefeito Osmando Pereira da Silva obteve a sua liberação em 2014. Hoje, a obra mais importante e que precisa de solução imediata é a da Avenida Jove Soares, cujos alagamentos geraram prejuízos a muitos comerciantes e cidadãos, e grande sofrimento ao povo. Iremos tentar, através do PAC, obter esse recurso, para solucionar, de vez, essa questão. Afinal, quando assumirmos a administração da cidade, em janeiro/2025, estaremos exatamente no período das chuvas. Temos que preparar um plano antecipado já durante o período de transição de governo, e, para isso, precisaremos ter acesso a todos os dados públicos necessários para indicarmos uma solução imediata e que não cause tantos problemas. Ao avaliarmos a peça orçamentária do exercício de 2025, iremos convidar os vereadores eleitos e reeleitos para tratarmos juntos das questões mais iminentes, a fim de reorganizarmos algumas despesas e alocarmos recursos prioritários a essas demandas, principalmente as dos alagamentos ocorridos no ano de 2024. Os poderes Executivo e Legislativo, com seus novos representantes, precisam estar em harmonia visando dar soluções que o povo espera e nos confiou o voto. Quero ter no Legislativo o parceiro de todas as horas, sem a preocupação de ser fiscalizado, porque é função primordial da Casa de Leis, mas voltado a olhar para a cidade e o povo com olhos de uma gestão compartilhada de importantes ações. 

FOLHA - Uma das propostas do seu governo é criar o “Programa Horário Solidário”, que visa estender os horários de permanência das crianças nas creches municipais até às 19h30 ou de acordo com a necessidade da mãe da criança. Pensando que o horário das creches é de até 16 horas, caso eleito, como isso acontece na prática? Haveria contratação de mais servidores para o trabalho ou ampliaria a carga de horário de trabalho do quadro de profissionais já existente, sobrecarregando esses profissionais que já estão sobrecarregados? E os outros gastos?

WANDICK - Eu confio na força da união e participação das mães e da comunidade para conseguirmos a implantação desse programa. Soluções existem e vamos buscá-las. O motor dessa ação de governo será a parceria governo municipal e comunidade, onde pretendo dar todo o suporte ainda que tenha que pagar horas extras ou contratar um ou uma profissional para coordenar a extensão de horário.

FOLHA – Itaúna tem a necessidade de obras urbanas emergenciais para a adequação de gargalos de trânsito e para planejamento urbano, por exemplo. Não há recursos para tal. Como fazer?

WANDICK - Se fecharmos a torneira do orçamento dos recursos que não estão sendo bem planejados e estabelecermos o verdadeiro planejamento, como o que implantamos no SAAE quando estivemos na direção-geral da autarquia de água, muitas ações serão prioridade. Não adianta colocar no PPAG aquilo que não se consegue realizar, se os cofres da cidade não suportam tal ou tais ações. Temos que ter pé no chão. O primeiro ano de governo será de ajustes, de enfrentamento aos principais problemas que a cidade demanda. Quem está saindo deixará pra trás problemas sérios, como os alagamentos que ocorreram durante 8 anos; o plantão 24 horas, que não funcionou corretamente durante 8 anos; o transporte público, que é o mais caro da região e que gerou mais dor de cabeça ao usuário nos últimos 8 anos; o trânsito caótico e a quantidade de multas geradas por radares e redutores de velocidade sem um estudo elaborado por uma empresa de engenharia de tráfego; a burocracia na liberação de projetos de engenharia e arquitetura, que se arrastou por quase 8 anos; a atualização do plano diretor, que não se coadunava com as normas e realidades locais e precisou da intervenção do Ministério Público; o direito ao piso nacional do magistério, que já se arrasta por quase 3 anos; as ações ajuizadas contra direito de servidores por quase 8 anos e que já tinham decisão formada no Supremo Tribunal Federal e que o Município decidiu recorrer sabendo que havia repercussão geral; etc. etc. etc. etc. Nossa proposta é uma empresa que faça um novo estudo de mobilidade urbana, para que nossa cidade seja melhor projetada, visando um trânsito mais eficiente, com acesso a vias que gerem conforto para caminhadas e até mesmo ciclismo, incluindo um transporte público mais eficiente, com ônibus elétricos a serem direcionados ao Programa Tarifa Zero. Queremos projetar Itaúna para os próximos 50 anos, cujas medidas estejam em consonância com o plano diretor e com o estatuto das cidades. 

FOLHA - O seu grupo é considerado parte do espectro político da “esquerda”. Pensando no perfil ideológico da cidade, caso seja eleito, como a sua gestão trabalharia com a oposição, tendo em vista que, em termos de partidos e ideologia política, a Câmara tende a ser de direita e que é impossível o Executivo trabalhar sem o apoio do Legislativo?

WANDICK - Não vejo nenhuma dificuldade em trabalhar com nenhum vereador, seja de qualquer ideologia. Pretendo mostrar a todos os representantes do Legislativo que é hora de parar de divisões e grupos políticos e passar a pensar na cidade. Os cidadãos já não toleram mais questões político-partidárias que lhes prejudique, e nós pretendemos trazer a participação popular para dentro do gabinete do Prefeito exatamente para alinhar essas decisões em favor de todos. Sempre tive uma postura diplomática no trato com a coisa pública, em toda a minha vida como servidor. Sou de entendimento e sempre penso no interesse do povo de Itaúna, pois quero criar uma relação construtiva, de proximidade, de amizade e respeito mútuos. Então quem já me conhece sabe o quanto busco o consenso. É hora de mostrarmos à população que somos homens públicos descentes, cuja intenção é a ética, a transparência, o respeito ao dinheiro público e com propósitos firmes perante a sociedade. Afinal, nossa terra teve e tem homens e mulheres de alto valor humanístico, que pensaram e pensam numa cidade progressista e cujos interesses sejam pra todos, mas, principalmente, para os que se encontram em desamparo ou em situação de vulnerabilidade. Que tenhamos grandeza de espírito para governar e agir em busca de melhorias pra toda a sociedade!