Irmã Benigna: o legado das Irmãs Auxiliares em Itaúna

Irmã Benigna: o legado das Irmãs Auxiliares em Itaúna
Charles Aquino


Em 7 de junho de 1916, foi lançada “a pedra basilar” de um hospital — Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira — na cidade de Itaúna/MG, em homenagem ao seu fundador. Em 14 de novembro de 1919 a “bênção do prédio” foi presidida por Dom Silvério Gomes Pimenta, professor, poeta e arcebispo de Mariana com um grande “número de pessoas gradas” e autoridades. O primeiro Conselho deliberativo reuniu-se em 14 de dezembro de 1920. Este ato transformou a “Santa Casa de Itaúna” em um importante centro médico da região. O estabelecimento contava com uma equipe qualificada de médicos e cirurgiões, além de uma farmácia abastecida com diversos insumos — o que atraiu muitos pacientes que o consideravam de fácil acesso devido à proximidade com a linha férrea.

O Pároco da cidade era o Padre João Ferreira Álvares da Silva, “amigo sincero” de Monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, fundador da CIANSP — Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade — em Caeté/MG em 1892. E “pela sua intervenção consegui e foram contratadas as Irmãs Auxiliares da Piedade para administração interna, no dia 21 de fevereiro de 1921 com todo o conforto espiritual e material”.  

Segundo os estatutos da Casa de Caridade de Itaúna, a partir desta data, foram designadas para trabalhar no hospital as primeiras irmãs — Irmã Superiora Natividade e suas auxiliares: Irmã Dolores, Irmã Inácia, Irmã Margarida e Irmã Nazareth. Aproximadamente em 1922, foi construída uma capela no interior do hospital. Nesta Capela da Casa de Caridade, meticulosamente ornada pelas devotas Irmãs Auxiliares da Piedade, era celebrado todos os dias com alegria o Santo Sacrifício da Missa. Os fiéis se reuniam para rezar o terço, e receber a benção do S.S. Sacramento aos domingos, quintas-feiras, primeira sexta-feira de cada mês e nos dias santos de guarda. Diariamente, as Irmãs, juntamente com os doentes e todos os membros do pessoal interno e externo, participavam na distribuição da “Santa Comunhão”.

Foi instituída a adoração mensal do S.S. Sacramento, durante a qual as Irmãs se uniam aos enfermos e aos devotos em uma hora solene de oração. Neste momento sagrado, era dirigido as súplicas ao santo Padre, ao estimado Dom Antônio dos Santos Cabral, ao Monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, a todas as ordens religiosas, ao fundador Manoel Gonçalves de Souza Moreira e a todos aqueles que governavam e trabalhavam na Casa de Caridade. Para garantir a lembrança eterna do sacrifício do Redentor, as Irmãs ministravam diligentemente o catecismo, preparando os enfermos para a primeira comunhão, ao mesmo tempo que expressavam gratidão ao Altíssimo, à S.S. Virgem da Piedade e ao glorioso São José. Todos os indivíduos que morreram na Santa Casa de Itaúna, receberam o sacramento da Sagrada Comunhão e a unção reconfortante da Unção Eterna, acompanhados de orações e apoio compassivo.

Já final de 1923, a primeira administração foi substituída pela Irmã Superiora Vicência e suas auxiliares: Irmãs Isabel, Celeste e Inácia. Em 1925, como Irmã Superiora Cândida e suas auxiliares: Irmãs Mercês, Natividade, Isabel, Inácia e Celeste. Em 1932, como Irmã Superiora Dolores e suas auxiliares: Irmãs Celeste, Cecília, Marta e Josefa.  

As Irmãs Auxiliares da Piedade passaram a desempenhar na Casa de Caridade um importante papel na promoção da saúde e do bem-estar da comunidade itaunense e cidades adjacentes. O comprometimento e a competência das irmãs na gestão das atividades do hospital e no cuidado aos pacientes conquistaram grande reconhecimento e eterna gratidão por parte dos enfermos e necessitados. Em 1939, as irmãs assumiram a liderança de uma escola, promovendo a formação moral e acadêmica dos alunos. Paralelamente, a congregação assumiu o controle do internato vinculado à Escola Normal Manoel Gonçalves de Souza Moreira, uma instituição importante para a educação da região, fundada pela Casa de Caridade — hoje conhecida como Escola Estadual de Itaúna. 

Em 24 de maio de 1942, foram registradas informações sobre os trabalhos realizados ao longo dos 21 anos de serviços prestados no Hospital de Itaúna — o estabelecimento atendeu um total de 7.409 pacientes, dos quais 6.917 tiveram alta após recuperação total. Esses dados servem como evidência para enfatizar a eficácia e o significado dos esforços realizados pelo corpo clínico em conjunto com as Irmãs Auxiliares da Piedade.  Além disso, ocorreram 492 mortes de pacientes, sublinhando a gravidade das condições abordadas. 

A prestação de serviços externos gratuitos pela policlínica também desempenhou um papel crucial, pois houve um aumento substancial do atendimento. Os procedimentos ambulatoriais dignos de nota incluíram 46.628 curativos, 48.910 injeções e 38.912 consultas, além de outros serviços essenciais, como 9.112 pequenas cirurgias, 10.590 radiações-ultra-violeta, 12.997 exames de urina e 8.267 lavagens vaginais.

Em termos de serviços internos da enfermaria os números foram igualmente impressionantes, com 62.240 injeções, 50.108 curativos, 10.201 pequenas cirurgias, 12.000 cirurgias de grande porte, 11.212 lavagens vaginais, 13.402 exames de urina e 1.190 radiações-ultra-violeta, entre outros procedimentos. Estas estatísticas demonstram não só o volume de trabalho realizado, mas também a natureza abrangente e complexa dos cuidados de saúde prestados.

Ao todo, durante 21 anos, 40 irmãs se dedicaram às suas nobres funções na Santa Casa de Itaúna. A partir de 1942, a Irmã Superiora Delfina (falecida em julho de 1944) e suas competentes Auxiliares, Irmãs Josefa, Benigna, Noême e Ubaldina, estiveram envolvidas no serviço e no cumprimento destas funções. Ao lado das Irmãs, os Revs. Capelães desempenharam um papel crucial no fornecimento de conforto espiritual. O Reverendo Padre João Ferreira Álvares da Silva serviu como o primeiro capelão, e foi graças à sua presença que as Irmãs Auxiliares da Piedade “devem a sua existência nesta digna Casa de Caridade”, o que garantiu que a congregação continuasse a experimentar o conforto ilimitado dos atos de beneficência.

Continua nas próximas edições