MERCADO MUNICIPAL

MERCADO MUNICIPAL
Yerre Silva

Não há necessidade de ninguém se alvoroçar. Foi só um sonho!...

Um sonho... pelo menos por enquanto...

Então... sonhei que voltava de uma caminhada, atravessava a linha do trem na Rua Doutor José Gonçalves, quando percebi uma grande movimentação em torno do Mercado Municipal. Ele estava aberto, iluminado e exalava uma mistura de aromas vindo das tintas frescas, das frutas, flores, de tudo que estava ali para ser vendido e que o mercado já havia protagonizado no passado.

Os grupinhos, que normalmente se juntam, estavam lá: políticos, repórteres, jornalistas, artistas, artesãos, feirantes, vizinhos do mercado e mulheres com seus bebês nos carrinhos ou com seus cachorrinhos nas coleiras... Alguns homens com baralhos já senhoravam das mesinhas de alvenaria e bancos, tudo novinho, reformado e pintado... Violeiros e sanfoneiros desciam de uma Van vindo lá do Brejo Alegre.

Tive vontade de entrar... Quem não teria? Depois de meio século assistindo à destruição do Mercado abandonado às traças... traça aqui é carinho, porque na realidade o Mercado estava abandonado era aos ratos e ratazanas de quase meio metro, aos escorpiões, baratas, lixo e mato, sem contar o mal cheiro de urina velha e cocô dos andarilhos que nem se davam ao trabalho de olharem para os lados para verem se alguém estava vendo eles abrirem a braguilha e botar a coisa horrorosa para fora e urinar na coluna do mercado bem de frente à uma conceituada clínica de saúde.

Claro que entrei!...

E me encantei com tudo que eu vi. A primeira loja era grande e fora ocupada com um minimercado parecido com o do Ramalho, que funcionou muitos anos no mesmo local. O Francisco Ramalho, que era professor, e que também fora prefeito de nossa cidade. Em frente tinha uma lanchonete que vendia pastéis fritos na hora, suco de laranja e garapa ou caldo de cana. Enquanto eu andava pelo mercado ia observando as salas, todas reformadas com janelas novas, pintadas, enfeitadas e com placas indicando: floricultura, produtos naturais, eletrônica que consertava relógios, rádios, celulares... (lembrei do Nôzinho, pai do Cláudio, que exerceu durante muitos anos este ofício ali mesmo...) da Loja de doces de tudo que é qualidade, à granel ou em pequenos saquinhos, amendoim torradinho, coco fatiado... e o cheiro... que delícia! Outra sala com imagens de santos, tercinhos coloridos, incensos... outra com roupas para consertar - uma costureira muito simpática com duas máquinas de costura - e sua filha entregando cartãozinho de visita... e no final, quase na saída, uma livraria toda organizada por gêneros literários, por idade, por temas.... Ainda havia um cafezinho de brinde... lindíssima!...

Do lado de fora, na saída, havia também os ambulantes com seus brinquedos luminosos, balões coloridos, pipoca, picolé, sorvete e latinhas de refrigerante e cerveja, com guardanapo e álcool para desinfetar as latas e as mãos. Observei também que foram colocadas lixeiras em vários pontos do Mercado. “Que legal! O povo daqui da redondeza agora não precisa mais jogar lixo no chão, como era no passado, o lixo entupindo os bueiros e as águas das chuvas entrando nas casas até perto da linha do trem! ” Pensei.

Do meio da multidão surge meu amigo Pedro, todo sorridente, vindo ao meu encontro dizendo: “olha que lindo que ficou o Mercado! Não era tudo o que você queria? Vão inaugurar agora! Eu vou cantar!... Você vai ficar para assistir?”.

Não tive tempo para responder...

Não fiquei... não assisti... porque eu acordei... e chorei...