Mestre Filhote: formação para a vida
Uma história de 35 anos na capoeira, sendo 28 deles ajudando a formar cidadãos melhores em Itaúna

Dênis Soares Mariano nasceu em Contagem, tendo vivido parte de sua vida naquela cidade, onde frequentava projeto social e recebia aulas de capoeira. Conforme ele explicou à FOLHA, há 35 anos está na arte da capoeira, sendo 28 deles em Itaúna. Aqui, ele é o nome mais conhecido desta arte/luta, mas não como Dênis e sim como o Mestre Filhote. E a denominação de Filhote surgiu, como ele conta, “nas rodas, quando perguntavam pelo meu mestre e eu dizia que ele não podia vir, brincavam: ‘Seu mestre não veio, mas mandou o filho dele’. Com o tempo, esse filho virou Filhote, em referência também ao meu estilo de jogo”. E ficou sendo Filhote, que hoje denomina também a Associação Filhote Capoeira Team, que surgiu a partir da Associação Cultural Abadá-Capoeira, onde Filhote tem trilhado a sua história.
Falando à reportagem, Filhote contou que seu trabalho é especialmente voltado às crianças, porém recebe a todos que buscam a arte para encontrar uma formação física e psicológica, que se transforma em construção de uma vida melhor. “Nós temos este projeto, mais voltado para crianças com idade até 12 anos, mas se chegar uma pessoa mais velha, seja homem ou mulher, sempre vai ser bem recebida”, afirmou. Hoje no Projeto as aulas são frequentadas por senhores de até 70 anos e por mulheres, de todas as idades. Hoje, o mestre não leciona a arte da capoeira em academias, por causa de um contratempo que o deixou contrariado.
Conforme contou, ele aceitou lecionar em uma academia e informou que atenderia aos alunos, mas que não ia deixar de atender as crianças que o procurassem para conhecer os primeiros passos da arte. E aí, um dia três crianças foram barradas na academia, porque não eram alunos. Foi o motivo que fez com que ele deixasse de lecionar capoeira em academias, pois entende que a sua arte deve ser levada a todos, a quem pode pagar e a quem não tem recursos para isso.
“Minha proposta é esta, é manter o projeto social, atendendo a quem deseja aprender capoeira”, arremata Filhote, que declarou ainda à reportagem que tem um sonho: “Queremos montar um ‘barracão cultural’, que possa abrigar a capoeira e tantas outras expressões culturais, que possam ser levadas às pessoas. Um projeto social que agregue cultura, arte, vivência, oferecendo formação às pessoas”, resumiu.
Projeto Abadá/Filhote
Com a Associação Cultural Abadá-Capoeira e, agora, com a Associação Filhote Capoeira Team, o mestre vai dando os passos necessários, quem sabe, para a realização do seu sonho. Quem o acompanha desde lá, no início, há 28 anos, sabe que ele é persistente, batalhador e que vem conseguindo ampliar o seu projeto social, atendendo crianças, adolescentes, adultos e até os mais velhos, no aprendizado da capoeira, arte marcial que é a única reconhecida como patrimônio da humanidade. Em todos os estados do Brasil, a capoeira está presente, assim como em mais de 150 países mundo afora.
E enquanto atua em Itaúna, Filhote também encontra tempo para participar de eventos pelo País. São vários os eventos em que ele marca presença, levando a arte e o sonho de ampliar o projeto que já não é mais só dele, mas de Itaúna, de oferecer oportunidade a quem desejar se envolver com a prática esportiva, que é uma excelente ferramenta para a formação da cidadania. Nas próximas semanas, conforme adiantou à FOLHA, Filhote e seu projeto participam dos Jogos Abertos do Interior de Minas.
Mais recentemente, Filhote esteve no Rio de Janeiro, em Saquarema, se apresentando em mais um evento de capoeira. E, no final do ano passado, participou do Congresso de Capoeira, realizado em Alagoas, no Quilombo dos Palmares. O evento reuniu capoeiristas do Brasil e de mais 23 países, para a 25ª edição do ZUMBIMBA.
Câmara reforça caráter cultural da capoeira em Itaúna
Proposta aprovada na terça-feira, 11, destaca “relevância histórica e cultural” da capoeira no município
Na reunião da terça-feira, dia 11, os vereadores de Itaúna aprovaram projeto, de iniciativa do edil Israel Lúcio, que propõe “incentivar a criação de políticas públicas para o fortalecimento da prática da capoeira como esporte e cultura”. O projeto apresenta ainda a possibilidade de se “criar espaço para os capoeiristas discutirem questões relacionadas à arte, à cultura e à prática esportiva da capoeira”.
A proposta de Israel Lúcio alterou a Lei 5.455/2019, acrescentando as questões colocadas acima e outras ao texto da legislação. A referida lei instituiu a Semana Municipal do Capoeirista, que deve ser comemorada na última semana do mês de agosto, que em 2025 se dá entre os dias 24 e 30 do mês.