O aprendiz de assassino

O aprendiz  de assassino
Claudio Lysias

Este é um livro curioso porque ele traduz os nomes dos personagens e traz uma nota do Editor, justificando o “porquê” de tal medida, o que para nós é plenamente aceitável. Os nomes têm relação com a personalidade de cada um dos atores desta história. 

Talvez a melhor forma de esclarecer tudo isto seja mesmo mostrando como a autora habilidosamente procedeu. 

O rei se chama SAGAZ e de fato é astuto, perspicaz, atento a tudo que se passa ao seu derredor, fazendo uso contínuo deste conhecimento a seu favor, sem deixar de espionar e ter olhos em todos os lugares. 

Ele tem filhos, ao todo três, e o primeiro na linha de sucessão na falta do rei é CAVALARIA, bastante peculiar, o nome diz tudo sobre seu caráter e ele é de fato um cavaleiro, distinto, honrado em todos os sentidos, incapaz de faltar com a lisura e a honradez e para todos de conduta ilibada, até a chegada de Fitz.

O segundo na linha de sucessão na falta dos dois primeiros, o Rei e Cavalaria, é VERACIDADE, outro que tem tudo a ver com o seu nome, sempre sincero e verdadeiro, avesso à mentira, é sempre direto, se gosta de você logo o diz se não gosta não se omite e diz por quê.

O terceiro filho do Rei e seguindo a linha de sucessão é MAJESTOSO, altivo, belo, cheio de si, se impõe só pela presença, difícil não o perceber, é dos tais que não some na multidão, está sempre em destaque, o que faz com que às vezes seja frívolo e não confiável e completamente imprevisível.

Temos personagens secundários, mas importantes para dar movimento à trama, neste caso não poderia deixar de falar de BRONCO, é isto mesmo, grosso, duro, sem meias palavras, responsável pelos estábulos e os animais, no entanto, fiel e extremamente forte. 

Outro é BREU, indivíduo obscuro, sempre na penumbra, não aparece em público e só aparece para quem quer, para fazer o que ninguém mais sabe a não ser o Rei. É completamente furtivo e nunca revela mais que o necessário. 

DESPACHADA é a professora, não mede palavras para dizer o que pensa, intolerante e objetiva, trata todos igualmente e pune sem olhar a quem, desde que esteja sob seus cuidados, cobra o que ensina e despacha qualquer um que não tenha interesse em lhe obedecer cegamente. 

GALENO é o mestre encarregado de ensinar o talento uma espécie de dom que estabelece uma conexão entre os indivíduos que manifestam a capacidade de aprender a se expandir mentalmente, por isso talvez se vista como um pavão e seja tão vaidoso, sentindo-se mais importante que todos por possuir tal virtude.

Poderíamos ficar aqui só falando disto, mas tudo começa com a chegada de Fitz, único nome não traduzido, porque não se achou similar em nossa língua, mas minha opinião não é esta, ele é o único que tem nome próprio, sem um significado e cujo significado se amoldará na própria vivência.

Estamos diante de uma saga, conhecida como a saga do assassino, que se trata de uma trilogia, da qual este é o primeiro volume, a sequência está nos livros O ASSASSINO DO REI e A FÚRIA DO ASSASSINO. 

Esta é uma história dos seis educados, CERVO, VIGAS, LAVRA, VARA, RASGÃO E RAZOS.   

O narrador é Fitz, ele vai nos contar como tudo começou. Ele tinha seis anos de idade, sofre de uma amnésia quanto ao que se passou antes desta data, mas tudo está muito claro para ele, desde então, e se lembra com pormenores de tudo que aconteceu naquele dia. 

A reminiscência é quase física: chovia, uma mão calosa e firme me arrastava sob a rua gelada, estava preso por aquela mão dura, rude em forma de concha que agarrava a minha. Contudo lembro-me de que era sem maldade, quente e firme. Ao mesmo tempo que não deixava escorregar-me no piso liso e molhado também não me soltava, apto a levar-me ao meu destino.

Estava frio e a chuva não amenizava, a sensação gelada da neve que se espalhava por todo canto, inclusive na entrada da fortaleza dentro da cidade e para a qual nos dirigíamos. As portas eram altas e faziam daquele velho que me arrastava, um anão. O velho ergueu a aldrava de bronze e bateu com força por três vezes na base de metal. Logo se ouviu uma voz, vinda detrás no caminho em que viéramos:

“ - Pai, por favor.” Uma voz feminina implorava. Virei-me para olhá-la, mas fui impedido pela neve que começara, pois era como um véu rendado e não pude ver suas feições.     

Lembro-me que não lutei para me libertar, apenas ouvi atentamente, também não gritei “Mãe, mãe”, ouvi o “som de botas e o destrancar do ferrolho da porta.”

Ela, no entanto, chamou uma última vez:

“ - Pai por favor” eu imploro.

O velho estremeceu naquele momento, mas nunca saberei o motivo, se de ira ou outra emoção qualquer. Um criado da casa fora quem abrira a porta, na verdade era um homem de armas, um guerreiro, olhou-nos impassivelmente esperando que lhe disséssemos a que viemos.

Foi quando o velho, numa voz rouca, disse:

“ - Vim lhe trazer o garoto.”

Como nada dissesse o guarda, o velho continuou. Dei de comer a ele por seis anos, nada recebi nem mesmo uma palavra do pai, ou moeda, ou visita, muito embora seja do conhecimento de minha filha que ele lhe fizera um bastardo, então entregue-lhe ao pai. 

O guarda me olhou e perguntou: 

“ - Filho de quem?”

O velho respondeu: 

“ - De Cavalaria. E virando-se me deixou ali e sem olhar para trás acrescentou.” – Do príncipe cavalaria.” ... “Aquele o príncipe-herdeiro.” 

Tenho certeza de que se você começar a ler não vai largar até saber como o garoto vai se sair neste infortúnio.