O que esperar de 2025?
Mais um ano chegou ao fim. Li/vi/ouvi várias “retrospectivas” da grande mídia e a questão econômica me chamou a atenção. A abordagem da maioria dessas “retrospectivas” dá tratamento diferenciado para as situações neste campo para o Brasil e a Argentina. Dois países que experimentam situações diferentes na realidade, e que são apresentadas de forma, diríamos, interessante, para não dizer interesseira, por parte de quem produz a pauta da grande mídia. Senão vejamos: o Brasil teve o sexto maior crescimento do PIB no mundo, atrás de Índia, Indonésia, China, Rússia e Estados Unidos. Teve o menor índice de desemprego da série histórica, caindo a 6,1%. A renda média do trabalhador brasileiro teve crescimento de mais de 5% e chegou a R$ 3.187,00. O salário mínimo teve reajuste de 7,5%, garantindo, assim, ganho real de 2,5% acima da inflação oficial. O crescimento do PIB, apesar das projeções pessimistas, alcançou 3,5%. O crescimento da indústria foi o maior em 10 anos, chegando a 3,6%. O crescimento do emprego na indústria foi de 77%. O país foi o segundo maior receptor de investimentos estrangeiros diretos do mundo neste ano de 2024. O investimento em infraestrutura saiu de R$ 188 bilhões em 2022, para R$ 260 bilhões em 2024. As linhas “branca” (eletrodomésticos) e “marrom” (aparelhos eletrônicos de uso doméstico) registraram o maior crescimento da produção e vendas nos últimos 10 anos (25%). No ranking mundial de produção industrial, o Brasil avançou 30 posições, saltando de 70° para 40°. O varejo chega ao fim do ano com alta de 12,2% nas vendas na comparação com 2023. A taxa de pobreza caiu para mínima histórica, de 27,4%. A taxa de miséria (linha abaixo da pobreza) caiu para a mínima histórica de 4,4%. Esses números foram recolhidos em informações por setor, já que não há um balanço apresentado pela grande mídia, como, aliás, li sobre a Argentina, em alguns “jornalões” e em sites de notícia de âmbito nacional.
Mas, aí, a grande maioria – quase todos – os órgãos de informação da grande mídia dão um destaque desmedido no Brasil para a alta do dólar, e as previsões pessimistas para 2025. Parece até que nada de bom ocorreu no País. Comentários de “analistas”, opiniões de âncoras de programas jornalísticos e por onde mais se tenha acesso a notícias são todas no sentido depreciativo. Poucos, pouquíssimos mesmo, ainda apontam que as ações do Congresso (Câmara Federal e Senado) e a política de juros imposta pelo Banco Central também têm culpa pelos problemas. A maioria deles aponta que a “política do Lula” é a principal causa dos problemas e esquece que algumas conquistas também são devido à tal da “política do Lula” (e, antes que digam, não sou filiado ao PT e nem defendo a maioria das suas pautas). O problema talvez seja porque eu sei ler e pensar por mim mesmo.
E é por isso que me estranha ver que, quando se fala algo na mídia brasileira relativo ao governo do Milei, na Argentina, invariavelmente é com elogios à sua (dele) política. Olha o trecho a seguir e analise: “A inflação [da Argentina] cedeu e se tornou a grande vitória de Milei em seu primeiro ano. O índice mensal passou de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,4% em novembro de 2024. Em 12 meses, ainda são 166%”. A informação inicial é de que a inflação foi reduzida a um décimo do que era no ano anterior. Mas, aí, no final da frase, a informação conta que “ainda são 166%” (em dose meses). Na média, dá 13.83% ao mês. Mas, antes disso, veja o que está escrito em matéria de um representante do grupo “Globo”: “E, claro, o principal: reduzir uma hiperinflação, que era de impressionantes 211,4% em 12 meses, ao final de 2023”. Reduziu de 211,4% para 166% que, na opinião da nossa grande mídia, não é “hiperinflação”.
Ainda na mesma matéria, lá no finalzinho, vem a seguinte informação: “O número de argentinos que vivem abaixo da linha da pobreza chegou a 15,7 milhões no primeiro semestre deste ano, atingindo 52,9% da população, de acordo com o Indec”. Isso mesmo que você leu: mais da metade da população está abaixo da linha da pobreza. Ou como diriam se fosse aqui no Brasil: “passando fome!”. Porém, imediatamente após essa informação, contemporizam: “mas a inflação foi se acomodando. A disparada ocorreu, explica o analista financeiro Luis De Dominicis, porque ‘os preços estavam muito defasados’, principalmente os de serviços e produtos básicos [hummm, aqueles que os pobres usam...]. Depois que os subsídios e controles de preços foram retirados [mas não contam que os subsídios são o do transporte e o controle de preços era o da cesta básica], houve uma alta expressiva seguida de uma gradual estabilização, explica o especialista”. Estabilização é colocar mais da metade da população abaixo da linha da pobreza. Pois é. Se esses dados fossem aqui no Brasil, a nossa grande mídia faria o mesmo? Acho que faria se fosse um governo que estivesse fazendo o que eles querem, colocando mais da metade da população abaixo da linha da pobreza. São coisas assim que podemos esperar para 2025, infelizmente, porque o “mercado” é que controla a grande mídia...
* Jornalista profissional, especialista em
comunicação pública e membro da Academia
Itaunense de Letras – AILE, titular da Cadeira 26.