Olamir Conrado: A Vida em Versos e o Samba na Alma
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A vida, este samba imprevisível, nos presenteou com Olamir Conrado. Seu nome ecoa em nossos corações como um samba bem tocado, vibrante e cheio de ritmo. Em especial, agora que sua presença física se ausentou. Olamir, amigo dos tempos e companheiro das lutas, faleceu recentemente, e com ele partiu uma parte imensa de nossas memórias e risadas.
“Um homem que não tem lei não tem também um destino. Se não morre de um modo, morre de outro, mas sempre morre para a vida”- Jorge Amado falava era do Olamir. Morrer para a vida é para poucos. Encontrar seu lugar no mundo não foi fácil; ele veio de uma infância marcada pela pobreza, que não pôde apagar a coragem que lhe foi feita de sonho e esperança.
Negro e autodidata, ele se ergueu como uma árvore frondosa em meio a ventos contrários, superando barreiras e conquistando o espaço que sempre lhe pertenceu. Olamir tornou-se um executivo de destaque no CitiBank, e sua habilidade em falar várias línguas não apenas demonstrava seu amor pelo conhecimento, mas também sua curiosidade inexaurível pelo mundo. Em cada língua que falava, havia um pedaço de seu coração, uma conexão que transcendia fronteiras e preconceitos. Tão bem-letrado, ele era a prova de que a educação é uma chave que abre muitas portas, uma luz que ilumina o caminho para espaços outrora inexplorados. Em última instância, ainda assim, ele é prova que a língua da amizade fala mais alto sempre.
Quando o samba começava a tocar, era impossível não vê-lo cantar. Curiosamente, “A morte é o que no fim das contas não nos faz esquecer, é a ausência do que, antes, foi presença.” Parece que T.S. Eliot é outro escritor que escutou do samba boêmio do Conrado. , A música sempre encherá o ar com lembranças do que já foi e do que sempre será. O samba era sua essência, um parâmetro de suas raízes e da cultura brasileira que sempre amou. Ele divertia-se com uma dose de Underberg ou uma boa cachaça, cercado pela família — sua esposa, Carmem, suas filhas e os netinhos que eram sua alegria.
Após anos de vida citadina em São Paulo e Curitiba, Olamir encontrou em Itaúna, Minas Gerais, o lar que tanto buscou ao se aposentar. Aqui, na serenidade do interior, ele cultivou novos sonhos, a simplicidade da vida cotidiana e o calor do sol que iluminava seu sorriso aos fins da tarde, na prainha. Tudo ao redor parecia celebrar sua existência, enquanto ele compartilhava histórias e ensinamentos para todos nós.
Quando Beckett escreveu que “É uma questão de encontrar sentido em um mundo onde tudo é transiência e vazio, um ciclo interminável de espera e despedida”, ele poderia ter descrito sua própria vida, mas Olamir superando qualquer melancolia - sempre soube que, em cada despedida, reside a promessa de um reencontro nas memórias que cultivamos. Seu legado vive em nós, nas conversas cheias de vida que agora ecoam em sua ausência.
Hoje, enquanto o lembramos para celebrar sua vida, deixamos a dor do vazio e abraçamos as recordações que ele deixou gravadas em nossos corações. Olamir Conrado não partiu; ele se transformou. Ele se tornou samba, memória e amor. Nos ritmos suaves do samba que ele tanto amou, encontramos conforto e a certeza de que a vida, com todas as suas nuances, continua sendo uma dança, e ele sempre será nosso companheiro de passos.
Na poesia da vida que ele viveu, Olamir continua a nos guiar, vibrante no compasso da eternidade. Até um dia, meu amigo. Que a música nunca pare e que seu espírito siga a dançar em cada batida de coração que o ama.
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rafacorradi@gmail.com