Os parlamentares “deitam e rolam”...

Os parlamentares  “deitam e rolam”...
*Sérgio Cunha




A cada dia que passa, mais noto o distanciamento existente entre a realidade das pessoas e o pensamento dos parlamentares nacionais. Sejam eles municipais, estaduais ou federais. Se o problema do cidadão é a falta de emprego, o deputado aprova a facilitação na liberação de armas... Tem sido assim, nos últimos anos e a tendência é não melhorar, infelizmente. A situação do Rio Grande do Sul, por exemplo, que sofre com as enchentes, é um exemplo. Enquanto o povo daquele estado sofre com a água invadindo casas, destruindo lares, alguns políticos espalham fake news, alimentando ódios que eles nutrem, mas que não são capazes de assumir e usam das pessoas mais simples para expressá-lo. Nos últimos dias com o problema da população gaúcha sendo até ampliado, pois não para de chover no Sul, grupos ideológicos espalham notícias falsas sobre o fato de ser necessário, ou não, a importação de arroz. Enquanto isso, mesmo com a tragédia do Rio Grande do Sul, não se viu, ainda, ação por mais simples que seja, por parte do Congresso, para propor o enfrentamento à crise climática que é a principal causa dos desastres chamados naturais. Pelo contrário, estão tramando a votação de um projeto que permita a “privatização das praias”, como tem sido denominada a proposta que quer passar a administração das faixas costeiras para os municípios. 

Em entrevista recente, o ex-presidente FHC, de quem não sou admirador, falou uma grande verdade: o Brasil está vivendo o “congressualismo” como sistema de governo, depois de ter tentado o parlamentarismo, sem sucesso. Como prevaleceu na vontade popular o presidencialismo, os parlamentares encontraram uma maneira de mandarem nas decisões, sem que tenham de assumir os ônus por isto. A relação de deputados e senadores com os vereadores, por exemplo, é uma demonstração desta realidade. Neste triângulo, o Executivo, que deveria administrar as cidades, é posto de lado, pois as decisões são dos parlamentares. Primeiro, dos deputados e senadores, que liberam os recursos para as obras que eles acham necessárias, sem procurar saber qual é a real necessidade da população, quase sempre. E como o asfaltamento de ruas dá mais voto do que saneamento básico, as cidades vão sendo asfaltadas, e o esgoto, por exemplo, deixado de lado. Com isso, os problemas da área da saúde aumentam. E cabe aos deputados e senadores, liberar verbas para o atendimento emergencial na saúde, enquanto a prevenção é escanteada. E assim, vamos seguindo, com os parlamentares decidindo o que deve se feito e, como sempre, fazem aquilo que lhes dá votos. E as necessidades reais da população vão ficando para depois, pois o que importa é o voto. É assim, porque o poder está nas mãos deles.

E só chegamos a esta situação, devido a ações de pessoas como o próprio FHC, que fez uma barganha com o Congresso, para conseguir um segundo mandato. Mostrou, com a decantada “compra” dos votos dos parlamentares para aprovar a reeleição, que o voto deles tem poder. E aí, eles aprenderam. Foram aos poucos ocupando os espaços. Aprovaram as “emendas impositivas”, manusearam os orçamentos secretos e hoje decidem para onde vai a maior parte do orçamento do País. E isso tende a continuar, pois os últimos presidentes não demonstram a força necessária ao enfrentamento desta situação. Lula e Bolsonaro se parecem muito. Ambos têm a inteligência necessária para manipular as massas e conseguiram formar séquitos de seguidores que a tudo que eles fazem, aprovam. Mas não têm inteligência, nem força moral e coragem necessárias ao enfrentamento preciso para que possamos sair desta dicotomia de “falsa-esquerda” e “falsa-direita”. E enquanto isso, os parlamentares vão “deitando e rolando”, como disse um amigo meu. É esse o buraco em que entramos.

* Jornalista profissional, especialista em comunicação 

pública, membro da Academia Itaunense de Letras – AILE.