Prefeitura compara situação local com dados do IPEA

Divulgação afirma que “população em situação de rua de Itaúna é de 22 moradores”

Prefeitura compara situação local com dados do IPEA
No Bairro Universitário, na Rua Silva Jardim, morador de rua fixou residência debaixo da ponte há vários meses


Alguns dos problemas que mais têm gerado reclamações da população nos últimos anos têm sido o aumento do número de pedintes e moradores de rua em Itaúna e a falta de uma política pública do município que tenha a eficiência esperada para tratar a questão. Nesta semana a imprensa nacional deu ênfase a um trabalho do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, fundação pública que é ligada ao Ministério do Planejamento e Orçamento. Este estudo aponta o crescimento de 935,31% da população em situação de rua, no Brasil, considerando os anos de 2013 até agosto de 2023. O estudo demonstra um aumento nesta população, de 21.934 pessoas, contabilizadas em 2013, para 227.087. 

Informa ainda o estudo que a contabilização de dados é feita a partir do Cadastro Único do Governo Federal e tem a motivação de servir aos governos para a elaboração de políticas públicas capazes de enfrentar o problema. Lembra ainda a imprensa nacional que o STF, em decisão recente, deu prazo para que o Governo Federal apresentasse propostas para enfrentar a questão em nível nacional. 

Em Itaúna, porém o setor de comunicação da Prefeitura viu na divulgação dos dados do IPEA uma excelente oportunidade de fazer “marketing político”, e divulgou que a “população de rua em Itaúna diminuiu mais de 50% nos últimos anos, enquanto no Brasil, cresceu quase 10 vezes na última década”. Apresentou os números globais do País e, ao final, afirma que “no final de novembro de 2023 a população em situação de rua de Itaúna é de 22 moradores”. Esses dados teriam sido repassados ao setor de comunicação da Prefeitura pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social.

“Divulgação oficial continua gerando memes”, afirma cidadão 

Como tem ocorrido na maioria das manifestações feitas à reportagem, um cidadão que trabalha como assistente social e pediu para não ser identificado, por temer represálias: “Se o prefeito manda retirar ônibus em reação aos vereadores que não aprovaram o que ele queria, imagine o que pode fazer com um simples assistente social?”, explicou para pedir o anonimato. Porém as críticas do cidadão são consistentes, ao lembrar que é descabida a comparação e que ela “não passa de marketing político, quando não se tem muito o que apresentar na área”. 

Conforme o questionamento, em 2018, o então secretário da área apresentou um trabalho, com dados claros, informando que havia sido feito um Censo, em que foram abordadas 55 pessoas em toda a cidade, indicando os locais em que estas pessoas estavam em situação de rua. Mas, lembra, além disso, “apresentou ações que seriam efetivadas para tentar dar solução ao problema. Agora não se trata apenas de uma comparação descabida e não trata do que está sendo feito, efetivamente, para atender a essa população, que sejam 22, 10, 5, ou 500”, desabafou. 

E aponta que a população de rua em Itaúna é acrescida por um grupo de pessoas que vem à cidade esmolar, por outro grupo que ocupa as ruas com venda de produtos que não se sabe a origem, além de pessoas que dizem estar a serviço de instituições filantrópicas, abordando passantes com oferta de panos de prato, canetas e outras bugigangas, para “ajudar tais instituições”, aponta o cidadão, além dos Venezuelanos que vêm e vão, com constância e ocupam os sinais as imediações dos sinais de trânsito. E lembra que, na semana passada, o fato já foi motivo de reportagem da FOLHA. “Talvez essa comparação sem sentido tenha acontecido como resposta à matéria do jornal, já que não existe um trabalho eficaz, por parte da Prefeitura, para lidar com a situação”. 

Continuou o cidadão afirmando que “o que a população quer não é comparação com dados do País inteiro, ou mesmo de cidades vizinhas. Queremos é um trabalho que possa inibir a venda indiscriminada de produtos que a gente não sabe a origem, pelas nossas ruas. É uma ação que possa diminuir o número de pedintes de instituições, que a gente nem sabe se existem, mesmo. Ou uma ação que possa atuar no sentido de conter o assédio nos semáforos, de vendedores e pedintes, muitas vezes até agressivos... Queremos um trabalho eficiente, eficaz, que atenda ao morador em situação de rua que realmente precisa de ajuda e que tire das ruas o aproveitador e o delinquente que se aproveita da situação da falta de ações do poder público, para atuar amedrontando as pessoas, especialmente os idosos, mulheres e crianças”, afirmou. 

E concluiu: “Queremos uma assessoria de imprensa da Prefeitura que trate os problemas com seriedade e que não abuse da molecagem nas suas postagens. Ah, e também que respeite as regras gramaticais na divulgação oficial. Do jeito que tem atuado, esse setor da prefeitura de Itaúna não informa, não comunica, e só faz é gerar memes para as redes sociais”.