Quando o cidadão é o último da fila no ponto de ônibus

Quando o  cidadão é o  último da fila no ponto de ônibus

Confesso estar cada vez mais assustado com o que estou tomando conhecimento diante das decisões finais do ainda então prefeito Senhor Neider Moreira de Faria, que é um cidadão itaunense, que sempre afirmou e criticou os prefeitos anteriores por atos “duvidosos”, e que agora, nos seus dois mandatos, praticou atos que, em minha opinião, são mais que duvidosos. Tenho o direito de ter essa opinião, como profissional e como cidadão itaunense.

Mas, nas últimas semanas, sinceramente, estou assustado com a coragem do Senhor Prefeito. A mentirada da semana passada envolvendo a empresa Simec, que pode investir em nossa cidade, me deixou de fato assustado. Eu disse pode investir, e as decisões desta semana, levantando outro assunto complexo, confirmam o que estou pensando. O Senhor Prefeito de saída acaba de arrumar um jeitinho de “dar” à empresa ViaSul os debatidos R$ 18 milhões, num possível acordo judicial. Como leigo, digo que arquitetado de forma brilhante por seus procuradores e o advogado da empresa. E mais uma vez quem vai pagar é o povo, porque, de qualquer forma quem vai pagar é ele, o usuário.

É a famosa frase: “Se correr o bicho pega... se ficar o bicho come...”. Ou seja: se a Justiça não conceder o precatório para pagar em parcelas no próximo ano, ele, Neider, concede o aumento, passando a passagem para R$ 7,20 ou R$ 7,60, para cobrir os “rombos” alegados pela concessionária do transporte público. Ou seja, o povo é quem vai pagar de todo jeito. 

Acho interessante é que, no apagar das luzes e num momento em que a população está voltada para as festividades do Natal e final do ano, quando as famílias, as viagens e os recessos são a prioridade e os movimentos políticos podem passar despercebidos, é que buscam surpreender com decisões mirabolantes. Até onde fui informado, as decisões jurídicas até ontem foram negativas, tanto em primeira instância como em segunda, mas ainda há mais uma decisão, que é a autorização dos precatórios, ou seja, que os R$ 18 milhões divididos em 10 pagamentos sejam incluídos na dívida pública, nos restos a pagar. Particularmente, acho absurdo, mas decisão judicial não se discute, pois são embasadas em leis.

O fato é que todo aquele imbróglio que perdurou um ou dois meses e que foi pauta no Legislativo, com muita discussão e posicionamentos, e depois foi motivo de revolta do povo, que é o usuário, ainda não acabou. A verdade é que o transporte coletivo, além de caro e que está sucateado em nossa cidade, está sem solução e a empresa quer dinheiro. Mas, enquanto a empresa quer dinheiro, a população vive um dia a dia com o transporte público inacreditável. E por mais de uma vez relatamos aqui o que vimos, pois até entrar nos ônibus para fazer viagem bairro a bairro fizemos para verificar em loco as situações dos carros. São absurdas. O usuário é tratado como “insignificante”. Para ser sincero, é tratado como lixo e ainda fica devendo obrigação, pois sem o transporte público tem sua vida dificultada para se locomover para o trabalho, estudo, lazer e interação familiar, numa cidade que cresce e tem novos bairros ano a ano. 

O fato é que as notícias dos dois últimos dias nos levam a ter a certeza de que os administradores públicos não estão preocupados com a população, e sim apenas com os interesses firmados entre “quatro paredes”. A concessão da ViaSul renovada no final do governo do ex-prefeito Osmando, e que teve autorização do atual prefeito, inclusive, com mudanças que beneficiaram a empresa, a longa e desgastante discussão da destinação dos R$ 18 milhões, que agora volta à cena, no fim do mandato, e a condescendência da administração municipal para com a empresa concessionária não nos surpreendem, apenas confirmam que o povo é mesmo relegado a terceiro, quarto plano, pois o que interessa mesmo são os outros interesses. E infelizmente é assim que funciona em todos os níveis políticos da federação. 

E ainda me surpreende mais é que o novo governo, que vai assumir dentro de poucos dias, já poderia ter se manifestado esta semana, pois, tenho a certeza, já sabe e acompanha nos bastidores todos os movimentos feitos para “resolver” a situação da concessionária com a destinação dos R$ 18 milhões por meio de precatório. Ou seja, o Município pode ter mais um compromisso para os próximos 10 meses, além das prestações dos vários empréstimos. A questão, até ontem à tarde, ainda não estava resolvida na esfera judicial, mas deve ser resolvida nos próximos dias. E, como frisei no início do parágrafo, acho estranho o governo que vai assumir no dia 1º de janeiro não se manifestar, pois é mais um compromisso que ele vai ter que assumir. Deveria deixar claro para a população que não comunga com a questão e que vai trabalhar para que a concessionária cumpra o que reza o contrato em todas as suas clausulas. Mas não, os novos gestores, ao que parece, não querem “botar a mão na cumbuca” e, ao que parece também, preferem que as coisas se resolvam judicialmente. E, quem sabe, eles estão torcendo até mesmo para que a Justiça autorize o pagamento dos R$ 18 milhões via precatório, porque, assim, a possível “bomba” de ter que socorrer a ViaSul no próximo ano e/ou autorizar já no início do governo um reajuste da passagem, dentre outros ajustes, não caia nas suas costas.

Enfim, o Senhor Neider Moreira de Faria acabou mostrando as garras depois que tomou assento como gestor do Município, essa é a minha opinião. Sempre criticou os “outros”, mas fez pior, muito pior... Em minha opinião, muitos dos atos foram insanos. Mas o poder da caneta tem que ser respeitado. Então fica a pergunta: até quando?