Reinado tem verba de R$ 80 mil, e time de futebol de R$ 180 mil

Evento mais tradicional da cidade com mais de um século de existência é pouco valorizado pela administração. Time de futebol com menos de uma década tem mais apoio da Prefeitura

Reinado tem verba de R$ 80 mil, e time de futebol de R$ 180 mil
Foto: Arquivo/FOLHA




Há pelo menos um século, acontece em Itaúna a festa mais tradicional da cidade: o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, conforme apontam historiadores. Todos os anos, no mês de agosto, milhares de pessoas acompanham a festa que acontece no Alto do Rosário e nos quartéis das guardas de Congado espalhados pela cidade. Difícil encontrar um itaunense que não goste, ou que não se divirta com a festa, e que tenha fé, mesmo que esteja assistindo de longe a passagem das guardas, ou indo ao Alto do Rosário “pagar promessa”, acompanhar a apresentação ou mesmo tomar uma bebida ou experimentar uma guloseima vendida nas barraquinhas... E vem muita gente de outras cidades para acompanhar a festa. 

E a tradição só faz crescer, pois, além das guardas que compõem a Associação das Sete Guardas, tem ainda a Guarda de Vilão da Vila Popular, a Guarda de Moçambique Santa Cruz, a Guarda do Congo Virgem do Rosário e a Guarda de Candombe Nossa Senhora do Rosário. A festa envolve, somente entre as guardas e a “corte”, composta pelas rainhas (perpétua, de Santa Efigênia, de promessas), rei congo, capitães e outros, além dos membros das guardas, que somados dão quase mil pessoas. E todo ano a Prefeitura destina uma verba para ajudar na realização da festa que, conforme os organizadores, não cobre sequer o custo dos fardamentos das guardas. Neste ano, R$ 80 mil – como no ano passado – foram aprovados. A distribuição ficou assim: R$ 53. 333,36 para a associação Sete Guardas e o restante para as demais instituições, com valores de R$ 6.666,66 para cada uma delas. 

Mas para time de futebol 

particular valor é de R$ 180 mil 

O questionamento em relação ao valor destinado ao Reinado de Nossa Senhora do Rosário, festa centenária e culturalmente popular e que envolve grande parte da população itaunense, incluindo homens, mulheres e crianças, surge quando é destinado a um time de futebol um valor mais de duas vezes superior. Isso mesmo, para a equipe de futebol Inter de Minas, que se transferiu para Itaúna em 2019, a Prefeitura já repassou neste ano a verba de R$ 180 mil. 

A informação para justificar o repasse, à época, era de que a equipe beneficia cerca de 600 jovens e crianças, como destacou publicação ligada à administração municipal. Em pesquisa no site da instituição, que informa ser uma equipe de futebol privada (isto é, tem dono, que seria o ex-atleta Thiago Gosling), a informação é de que a entidade atende a cerca de 400 crianças. Já em matéria publicada no site do Inter de Minas, que, coincidentemente tem a capivara como símbolo em suas publicações, a informação é de número ainda menor: “o Inter de Minas atende mais de 350 crianças e jovens de 6 a 17 anos, utilizando o futebol como ferramenta de inclusão social e cidadania”. 

Conforme publicação ligada à administração municipal, já citada, em 10 de abril deste ano, após a aprovação da verba de R$ 180 mil, a informação era de que o “time e seus projetos sociais atendem cerca de 600 crianças, sendo que 90% das mesmas pertencem a Itaúna e região”. Os críticos destacam o fato de a atual administração municipal valorizar um time de futebol com apenas uma década de existência (a fundação do Inter de Minas, conforme informação encontrada pela reportagem, “ocorreu em 4 ou 17 de dezembro de 2014, na cidade de Uberlândia”), e que veio para Itaúna em 2019, em detrimento de uma tradição centenária. 

“Um time de futebol particular, com menos de cinco anos de história em Itaúna, recebe verba de R$ 180 mil, enquanto o Reinado fica com R$ 80 mil. Isso é o cúmulo do descaso!”, afirmou um cidadão, que não tem nenhum envolvimento com o Reinado e com o Inter, ao comentar a aprovação da verba para o Reinado na Câmara. E completou: “Sno Reinado tivesse ‘praça de alimentação’, com food truck vendendo chope, dentre outras guloseimas, com certeza, o investimento seria maior!”.