Rose

Rose
Claudio Lysias

Deixando trilhers e os livros de suspense, Rose foi uma opção e tanto, já que um drama com boas pitadas de mistério faz a devida compensação. 

O autor é o renomado Martim Cruz Smith o mesmo de Praça Vermelha, obra que o notabilizou, como de costume ainda não havia lido nada deste escritor, mas já conhecia sua trajetória.

O livro se chama Rose, mas bem que poderia se chamar Blair, personagem principal da obra, pois tudo começa e termina com ele, apesar de Rose ser o pivô de toda a trama e de trazer a grande surpresa do romance.

Blair é hoje um fracassado, e a África está entranhada nele, faz parte de sua história recente, bronzeou sua pele, viciou sua mente com a febre do ouro, envenenou seu sangue com a malária, e lhe impôs tremores, mesmo com o sol a pino.

A princípio pensou estar com Tifo, pois passara toda a semana amarelento, da cabeça aos pés. Acontece que quando viu sua urina no vazo, amarronzada, não teve dúvida, era malária mesmo. Única decisão sensata, quinino e um boa talagada de gim para rebater a febre terçã.

Mas não estava na África, o tempo na Inglaterra estava chuvoso e frio. Seu quarto não era acolhedor e o pouco de carvão que restara na estufa era mais cinzas que outra coisa. O melhor seria se levantar, então passou os pés, da cama para o chão e desmaiou, voltando a si somente uma hora depois.

Nada podia ser feito a não ser o tratamento costumeiro, ainda caído e no chão, pôde ver o estado de sua moradia, um tapete manchado de chá, lençóis sobre a cama espalhados, uma única cadeira. Com muito esforço pôs-se de quatro e arrastou-se em direção à lareira, sentiu tudo rodando e tornou a desmaiar.

Recobrando a consciência, teve o interesse de beber um café turco, particularmente “não gostava do chá inglês, preferia o marroquino mentolado servido em copo de vidro”. Afinal de contas, Londres não poderia lhe oferecer nada melhor que aquilo, então terminado o chá, pensou em se vestir.

Vestido principiou sua saída, mas ao iniciar a descida da escada, cambaleou como um marinheiro. Certamente isto não o impediria de comparecer ao compromisso, porque era também o único meio de deixar a Inglaterra, o que o impelia a ir mesmo que arrastando.

Londres fedia a bosta de cavalo e aquele bafo o pegou de surpresa. Lembrou que os boulevares de Paris eram lavados uma vez por semana. Enfastiado, seguiu caminho a fora com o estômago nas costas, tinha que beber alguma coisa, e apesar de estar atrasado não pode deixar de perceber no quadro negro de um bar o anúncio: “O gim mais barato”, não resistiu e pediu logo um, tendo o atendente informado que tinha ovos em conserva ou ostras de acompanhamento.

Em resposta Blair disse apenas que estava fazendo dieta de líquidos. Desafortunadamente ouviu uma voz que dizia: “Illustrated London News”, um repórter. Blair sequer esperou pelo troco e saiu.      

Rompendo o aglomerado de fregueses, ganhou a rua, deixando para trás o repórter que dizia: “– Era o Blair, ..., Blair da Costa do Ouro. O Nego Blair”.

Seu destino assomou-se, estava em Savile Row e defronte de uma placa de bronze que indicava “Real Sociedade Geográfica”.

 “_ Sr. Blair” assim o recepcionara Jessup, sempre estranhara o entusiasmo do comissário, que logo tomou-lhe o chapéu e a capa conduzindo-o ao capeiro e por fim trouxe-lhe chá com leite, perguntou como estava se sentindo e vendo sua tremura tal que mal podia segurar a chávena sem derramar, aconselhou-o a tomar um pouco de chá de pólvora.

Sem rodeios, Blair quis saber se o Bispo estava. 

“- Vossa Excelência ainda se encontra”. Serviram-lhe queijo e vinho do porto. Solícito, informou que lera tudo que escreveram sobre ele e aguardava mais relatos. Informou também que o Bispo estava na sala dos mapas, mas advertiu - ele está de mal humor.        

O leitor não deve pensar que a escrita do autor é a narrativa livre adotada por este colunista, porque é muito mais rica, tomei apenas a liberdade de narrar do meu jeito pra dar ao leitor uma ideia do que poderá encontrar lendo esta obra, que recomendo e elogio com louvor.