Tradição que a escritora Maria Lúcia Mendes mantém há 7 décadas

Quem passa pela Rua João Gonçalves, no Centro de Itaúna, no período natalino, não deixa de notar a armação repetida pelos últimos 73 anos

Tradição que a escritora Maria  Lúcia Mendes mantém há 7 décadas
Foto: Divulgação

A escritora Maria Lúcia Mendes, há nada menos do que 73 anos, mantém a tradição da montagem do presépio em Itaúna. Costume que atravessa o tempo e que é mantido a partir da devoção de pessoas como ela. Quem passa pela Rua João Gonçalves, no Centro de Itaúna, próximo às ruínas do antigo mercado municipal, com certeza já parou para admirar o presépio que ela monta todos os anos, sem interrupção, nas últimas sete décadas. O seu presépio tem ganhado algumas figuras ao longo do tempo e já conta até com um minifogão à lenha, presenteado por um amigo, há alguns anos.

Mas a história do presépio começou lá em meados de 1951, quando a escritora completava 11 anos e havia concluído o curso primário. Seu pai a presenteou no Natal com o presépio. Mas aí aconteceu um probleminha, pois faltava a imagem de São José. Como narra Maria Lúcia, ela ficou bastante chateada pelo fato, chorou muito por isso e, no dia seguinte, seu pai foi à loja do Zé Nogueira, “A Princesinha”, e comprou a imagem que faltava. Então Maria Lúcia montou o seu presépio completo. E todos os anos, desde então, ela repete o ato.

O presépio montado na sua varanda recebe visitas, pessoas fazem fotografias no local e agora Maria Lúcia está tentando acertar com uma Folia de Reis para fazer a visita ao presépio, como manda a tradição. Ao falar sobre a montagem e a manutenção do costume, Maria Lúcia viaja no tempo, parando às vezes para contar histórias sobre cada uma daquelas centenas de peças. São imagens da Família de Jesus, animais, manjedoura, enfim, um cenário montado a relembrar o nascimento de Jesus Cristo. “Os ninhos de passarinho”, conta ela, “as pessoas trazem para mim, assim como uma ou outra peça que é acrescentada”.

Maria Lúcia é mãe do advogada Moacir Júnior, da Luciana e da Maria Tereza. É avó do Luís Fernando, do Rafael, da Ana Clara, da Alice e do João Marcelo. Autora de 16 livros, o mais recente lançado em agosto de 2023, “Os Girassóis de João”. Faz questão de transmitir à família e aos amigos, as suas vivências e, por que não, o costume da montagem do presépio. São 73 anos, como já dissemos, em que todos os anos ela trabalha, se divertindo, na montagem do presépio na varanda da sua casa. E neste ano a reportagem da FOLHA esteve no local para fazer o registro desta tradição tão mineira.

Origem da montagem de presépios

A montagem do presépio é uma tradição das famílias católicas que se mantém viva em Minas Gerais, especialmente nas cidades do interior. Conforme as pessoas que cultivam esta tradição, a montagem é um gesto que ajuda a preparar a celebração do nascimento de Jesus, lembrado em cada Natal.

O período para a montagem do presépio vai do primeiro domingo do Advento – que neste ano se deu no dia primeiro de dezembro, e em 2025 será no dia 30 de novembro – até o dia 6 de janeiro, Dia de Reis, quando a Igreja Católica celebra a Epifania do Senhor.

O nome dado à montagem (presépio) foi extraído do latim “praesaepe”, que significa “estrebaria” ou “curral”, e é uma alusão ao local onde Maria deu à luz a Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme a tradição cristã. Na história, o registro do início da representação montada em um presépio data de 1.223, quando teria sido montado por São Francisco de Assis.