Trump e a moralidade de progressistas ou de conservadores
Nesta semana, Trump foi eleito como o 47º presidente dos EUA, com uma margem avassaladora. Ele e Elon Musk, na prática. Na sequência, uma enxurrada de desinformação sobre a moralidade do candidato eleito recheou as redes. Por oportuno, revisamos uma reflexão que nos lembrou por que conservadores e progressistas precisam entender a moralidade um do outro.
Suponha que dois amigos vão ver a estátua de Davi, de Michelangelo. Quando eles finalmente estão frente a frente com ela, ambos ficam perplexos. Um está fascinado pela beleza da forma humana perfeita. O outro está atônito de vergonha de olhar aquela coisa ali no meio das pernas da estátua. Craig Joseph e Jonathan Haidt pesquisaram a literatura sobre antropologia, sobre variações culturais na moralidade e também sobre psicologia evolucionária, procurando por padrões. Acharam cinco - cinco melhores padrões, que denominamos as cinco fundações da moralidade.
A primeira é cuidar do sofrimento. Somos todos mamíferos aqui, então temos muita programação neural e hormonal que faz com que nós realmente criemos laços com os outros. A segunda fundação é reciprocidade justa. A terceira fundação é lealdade interna no grupo. Grupos que são unidos para lutar contra outros grupos. Isto provavelmente vem da nossa longa história de vida tribal, de psicologia tribal. A quarta fundação é respeito à autoridade. A quinta fundação é a santidade da pureza. Pureza não se limita a suprimir a sexualidade feminina. Aplica-se a qualquer tipo de ideologia, qualquer tipo de ideia que lhe diz que você pode alcançar a virtude controlando o que você faz com seu corpo, controlando o que você põe em seu corpo. E enquanto a direita política está mais preocupada em moralizar o sexo, a esquerda política está fazendo mais ou menos o mesmo com a comida.
Se realmente há cinco sistemas trabalhando na mente - cinco fontes de intuições e emoções - então nós podemos pensar na mente moral como sendo um daqueles equalizadores de áudio que tem cinco canais, onde você pode ajustar uma configuração diferente em cada canal. Brian Noseh, Jesse Graham e Jonathan Haidt fizeram um questionário com 30.000 pessoas. Observaram que todas as pessoas se preocupam com questões de sofrimento e cuidado. A mesma coisa para justiça. Contudo, quando falamos de lealdade grupal, autoridade e pureza, para progressistas, isso tem pontuações muito baixas. Progressistas estão basicamente dizendo, “Não, isso não é moralidade. Lealdade grupal, autoridade, pureza - essas coisas não têm nada a ver com moralidade. Eu as rejeito”. Mas à medida que as pessoas ficam mais conservadoras, esses valores crescem. Nós podemos dizer que liberais tem um tipo de moralidade de dois-canais, ou duas-fundações. Conservadores tem uma moralidade de cinco-fundações, cinco canais.
Em qualquer país, a discordância não é sobre sofrimento e justiça. Todo mundo debate sobre o que é justo, todo mundo concorda que sofrimento e justiça importam. As discussões morais dentro das culturas referem-se especialmente a questões de lealdade a membros do grupo, autoridade e pureza.
Os progressistas têm seus motivos para fazer isso. A autoridade tradicional, a moralidade tradicional, podem ser muito repressivas, e restritivas para aqueles que estão por baixo, para as mulheres, para os que não se ajustam ao sistema. De modo que os progressistas falam em nome dos fracos e oprimidos. Eles querem mudança e justiça, mesmo ao risco do caos. Conservadores, por outro lado, falam em nome das instituições e das tradições. Eles querem ordem, mesmo que isso tenha um custo para os que estão por baixo. O grande discernimento dos conservadores é que a ordem é realmente difícil de conseguir. Ela é realmente preciosa, e é muito fácil de perder. Assim, como disse Edmund Burke, “As restrições sobre os homens, assim como suas liberdades, devem ser computadas entre seus direitos.” Isto foi após o caos da Revolução Francesa. Então, uma vez que você veja isso - uma vez que veja que progressistas e conservadores ambos possuem algo para contribuir, que eles formam um equilíbrio de mudança versus estabilidade - então o caminho está aberto para escapar da matriz moral.
Nossa consciência moral foi projetada pela evolução para nos unir em equipes, para nos dividir contra outras equipes e então para nos tornar cegos à verdade. Não podemos simplesmente continuar atacando dizendo, “Você está errado e eu estou certo.” Porque todos pensam que estão certos. E, por isso, queremos mudar o outro. Mas, para isso, precisamos entender que o outro tem a mesma motivação, com suas razões. Esse é o passo essencial para cultivar a humildade moral e impedirmos que nosso instinto humano dificulte exercermos as mudanças em que acreditamos, na direção em que cada um de nós enxerga ser a adequada.