Uai! “Mas o prefeito sou eu...” – 01
Na semana anterior, iniciei o editorial, afirmando que, um dia após a eleição, já havia “burburinhos” nos meios políticos e nos grupinhos de amigos sobre a constituição do governo de Gustavo Mitre nos dois primeiros escalões, ou seja, cargos de secretariado e chefias. E que. além das “definições intramuros” de nomes para os cargos, as prioridades de governo também já salpicavam, como tem que arrumar aquilo, fechar isso, demitir aquele e reorganizar lá... E como ouvi e escrevi: o secretariado tem que ter aquele nome, ele tem que nomear o meu candidato, o meu parente. Ou ainda: “Eu estou dentro”.
Pois muito bem, vou repetir: é muita verborragia. E acho que, se o prefeito eleito não vier a público em uma entrevista coletiva e se posicionar afirmando que o prefeito é ele e que ele ainda não definiu nada e que a formação de sua equipe vai ser feita com base em capacidade técnica, conhecimento e profissionalismo, a “confusão” e as suas dificuldades vão começar antes da hora.
Como cidadão itaunense, e da gema, tenho muitas cobranças a fazer em se tratando de Itaúna. E como jornalista tenho muitas. Acho que a atual gestão fez uma administração regular, mas que falhou em vários aspectos em se tratando de políticas públicas, então é preciso consertar isso, com planejamento e gestão plural, para que a cidade possa evoluir mais em qualidade de vida. E, para que isso aconteça, Gustavo Mitre vai ter que saber formar um governo mais técnico do que político, e aí, em minha opinião, vão começar os problemas, pois ele tem ao seu redor mais nomes políticos do que técnicos. E, assim, começo a ter minhas dúvidas de que ele conseguirá se livrar dos “apoiadores” de plantão, que sabem fazer muitas coisas como rezar, editar livros, administrar empresas, fazer caridade, dentre outras atividades, como política, mas de administração pública não sabem nada.
Recebi informações, não posso precisar se com algum fundamento, que pelo menos metade do secretariado está definido por nomes que já participaram de administrações passadas e que, então, vêm com vícios, e muitos vícios. Não cabe a mim palpitar em secretariado de prefeito eleito. A vitória é dele e a administração também, mas, num entendimento simplista, o prefeito é meu representante, foi eleito para administrar a minha cidade, lugar onde vivo e que precisa ter serviços públicos de qualidade em todas as frentes, sejam elas de saúde, educação, assistência social, urbanismo e meio ambiente. Então posso palpitar, e até mesmo exigir que tenha critérios. É minha opinião.
Entendo que a administração Mitre tem tudo para dar certo, sim, mas ele não pode errar. Não pode começar “pagando” apoiadores com cargos, para os quais há necessidade de competência e qualificação. É preciso, sim, olhar com atenção a sustentação política, mas essa tem que ser nos pontos sensíveis e só. Como já frisamos no editorial da semana anterior, a cidade tem problemas que precisam ser solucionados com rapidez e com lucidez pública, o que o atual prefeito, o que sai, em minha opinião, nunca teve. Pra mim, lucidez pública é saber observar um todo. É priorizar o bem-estar do cidadão sem olhar onde e o porquê, e principalmente sem priorizar os “amigos” de plantão.
Então já vamos começar a cobrar a partir de agora, pois daqui 30 ou 40 dias não queremos ver um secretariado abaixo do padrão de necessidade do município, e muito menos ser um crítico constante do alcaide, mesmo antes dele assumir. Entendemos a situação delicada dele, desde já, mas apoio político recebido em campanha é uma coisa, e não pode ser motivo para que muitos queiram assentar na cadeira de secretário ou assumir departamentos ou diretorias.
Entendemos que nossa função como homens de imprensa é cobrar e colocar nossa opinião devidamente assinada em nossas páginas, sejam elas na forma on-line ou impressa, e vamos fazer isso quantas vezes forem necessárias, e se começamos agora é porque já estamos vislumbrando problemas sérios, pois alguns nomes que podem vir a assumir cargos de primeiro escalão não têm nenhuma competência para tal e estão sendo lembrados politicamente e só. Isso não vai dar certo. Mitre tem que ter a coragem, desde já, de vir a público e dizer: tudo é especulação, é verborragia e vou agir conforme o necessário, priorizando a competência. Até o momento, não fez isso, está deixando as conversas de bastidores chegarem até as ruas. Um risco muito grande.
Preocupar com a situação no Legislativo é também muito importante para a sustentação política do governo, mas é mais uma vez preciso cuidado e muito tato com as conversações nos bastidores, onde já se discute formação de Mesa e principalmente presidência. Às vezes, acha-se que o nome certo está do seu lado, num partido aliado, mas pode estar em algum outro partido, que é mais independente. Particularmente, vejo que, no Legislativo, Mitre terá que fazer “malabarismos” para conseguir ter uma Mesa que tenha a capacidade de negociação e de convencimento para conduzir a Casa, pois, mesmo que em minoria, a oposição desta vez será mais, digamos, apurada, com melhores condições de atuação conjunta e vai estar mais disposta a impor os seus pensamentos. E, assim sendo, ele terá que ter nomes que reúnam capacidade de condução de diálogos, conheça trâmites internos e, mais do que isso, tenham capacidade política de diálogo. E nesse momento é importante que o prefeito saiba que nem sempre esse nome está no seu grupo. Ele tem experiência no Legislativo estadual e sabe como são as coisas.
Enfim, estou preocupado com o futuro e acho que, de fato, Gustavo Mitre terá muitas dificuldades se não começar a se impor agora. Se tudo que estou ouvindo tiver mesmo fundamento, e acho que tem, ele não terá sossego para governar. Que ele saiba mexer no tabuleiro com precisão e monte um governo suficientemente forte para enfrentar os desafios que terá pela frente. Repetir secretariado dos governos anteriores e utilizar “figurinhas carimbadas” não será interessante. Repito, precisamos de gente nova e de outras mais experientes, mas que saibam o que vão fazer. Não é hora de passar a mão na cabeça de apoiador e muito menos de formar governo para agradar amigos. O momento é de mostrar para o que veio e fazer um governo para calar a boca de muita gente do meio político. Ponto.