Yedda de Paula Machado Borges: A mestra centenária
Em 1947, quando o mundo ainda se recuperava das cicatrizes da guerra, Yedda já iluminava as salas de aula do Colégio Santana com seu fervor pelo ensino. Ela nutriu mentes e corações por décadas, tornando-se um dos pilares fundamentais da instituição e do município. No próximo dia 1 de janeiro, ela completa 100 anos.
Em um mundo onde o tempo parece escorrer entre os dedos como a areia fina de uma ampulheta, há aqueles raros indivíduos que conseguem testemunhar o passar de um século inteiro. Yedda de Paula Machado Borges é uma dessas preciosas joias do tempo, uma centenária cuja vida se entrelaça com a própria história de sua comunidade itaunense, deixando um legado que transcende gerações.
Nascida sob o signo da vocação para o ensino, Yedda é filha de quem a ensinou o gosto pelo ensino, a ilustre Zélia de Paula Machado. Seu pai; Dr. Ovídio Nogueira Machado, um dos mais renomados médicos que o município já conheceu. Como se o destino já houvesse traçado seu caminho, ela seguiu não os passos da medicina, mas encontrou sua própria vereda no nobre ofício da educação. Tal qual Virgílio guiou Dante pelos círculos do conhecimento, Yedda se tornou uma guia para incontáveis almas jovens em busca de saber.
Ao lado do esposo Lauro Borges, a jornada de Yedda não foi apenas uma travessia pelo tempo, mas uma odisseia de aprendizado e crescimento. Como Ulisses em sua epopeia, ela enfrentou os desafios de cada era com coragem e sabedoria. Adaptou-se às mudanças sem jamais perder sua essência. Sua vida é um testemunho vivo de que a verdadeira educação é aquela que não apenas transmite conhecimento, mas que inspira a busca incessante pela verdade. Sua contribuição para o Colégio Santana vai além do mero ato de ensinar. Foi o Dr. Raimundo Moura que conseguiu o reconhecimento formal do Colégio SantÁna, em 1945. Mas não só. Tinha ele como secretária a filha de José Santiago, Nívia Santiago. Também faziam parte do quadro docente do Ginásio: Yedda de Paula Machado Borges, Arthumira de Oliveira Gonçalves, Thaís Machado Gonçalves, Dr. Lincoln Nogueira Machado, Maria Tereza Machado Alves, Osmar Barbosa e Ulysses Lopes da Silva. Yedda personificou o ethos da instituição, moldando seu caráter e filosofia com a mesma delicadeza e precisão de um artesão. Sob sua influência, o colégio floresceu, tornando-se um jardim de mentes brilhantes, onde o conhecimento era cultivado com o mesmo cuidado que um jardineiro dedica às suas mais preciosas flores.
De 1945 ao simbólico ano de 1994, cerca de 50 anos depois (uma vida!), observa-se a mudança do perfil dos componentes da entidade mantenedora do Colégio. Da composição antiga, permaneciam somente Padre José Wetzels e Yedda de Paula Machado Borges – a testemunha ocular do pilar educacional do município. Ela viveu momentos indeléveis da forma como a Educação se conformou no serviço de Itaúna. Para citar um pequeno exemplo: o estatuto datado de 15 de maio de 1969. Ele ainda preservava os termos “instituição filantrópica, beneficente, assistência social e amparo à juventude mais abandonada”. A assinatura do documento foi liderada pelo Padre José Wetzels. Nelas constavam o testemunho assinado de: Padre Giovani Van de Laar, Padre Simão Van Eck, Padre Luiz Turkenburg, Padre Bernardo Rutten, Padre Mário Clemente Neto, Professor José Gomes de Miranda e a eterna testemunha Professora Yedda de Paula Machado Borges.
Ao longo de sua centenária existência, Yedda foi testemunha e partícipe de transformações monumentais. Viu o nascimento da era digital, a chegada do homem à Lua, revoluções sociais e culturais que remodelaram o tecido da sociedade. Em meio a tudo isso, permaneceu como um farol de estabilidade e sabedoria. A longevidade de Yedda não é apenas uma questão de anos vividos, mas de vidas tocadas. Cada aluno que passou por suas mãos carrega consigo uma centelha de sua sabedoria, propagando seu legado através das gerações. Como escreveu Marcel Proust, “O verdadeiro ato de descoberta consiste não em encontrar novas terras, mas em ver com novos olhos.” E foram os olhos de inúmeros estudantes que Yedda ajudou a abrir para as maravilhas da perspectiva educacional itaunense.
Ao celebrarmos o centenário de Yedda de Paula Machado Borges, minha amada Tia Yedda (assim como sei também ser para dezenas de sobrinhos que a admiram) não estamos apenas honrando uma vida, mas reconhecendo um fio crucial no tecido de Itaúna.